20 de dezembro de 2009

A máquina.

Todo Natal meu é particularmente triste.
É uma vontade de ficar dentro do quarto até amanhecer ano diferente,
como se números pudessem mudar a sequência lógica dos meus atos.
Todo final de ano peço por todos que não estão mais comigo.
Fico pensando que nesse dia, feito um portal do tempo,
poderei voltar às épocas que quiser.
O relógio dá essa assinatura aos dias,
pois todos, até os piores, ficam com uma beleza nostálgica.
Todas as pessoas, até as piores, ficam com uma importância inexplicável.
E todos meus pensamentos, até os piores, concordam que saudade de vida e de morte é um dos sentimentos mais doídos que já inventaram.

21 de novembro de 2009

Há que se admirar homens de terno que afrouxam a gravata e sentam no meio-fio para rezar.

7 de novembro de 2009

Menina Lilás

Morava num livro,
cercada de letras por todos os poros.
Não era suficiente.
Escreveu janela,
das folhas fez pássaros.
Choveu.
Dicionário em mãos, roubou guarda-chuva.
Apagou.
Escreveu ponta da língua pra fora.
Assim é bem mais, pensou.
Bebeu da água.
Comeu do pão.
Adormeceu sem planejar minuciosamente o passo seguinte,
pois liberdade é mil precipícios na barriga
e ela não tem medo.
Só de espíritos ou certas marcas de inseto.
E de pessoas excessivamente felizes.
Quando chora fica com o coração desmaiado por longos dias,
mas como é adorável!
Como é adorável essa menina
de nome sem rima
que não coube em nenhuma canção.
Esse poema é pra celebrar sua esquisitice.
É também um brigadeiro de amor
(seja lá o que isso for).
Esse ano descobri sofrimentos e felicidades em todos os graus.
Modifique-me de tantas maneiras que cresci, diminuí e comi diversos bolos fantásticos de terras maravilhosas. Não é síndrome de Alice, é a vida em seu sentido mais arrebatador.
Pra variar, teve uma paixão doída, uma briga e uma reconciliação, cabeçada na parede, um beijo, tudo regado com as melhores trilhas de cinema.
Lembrei e fui lembrada por quem mais queria. É isso que importa nos meus finais. Aqueles que eu amo estavam aqui, para o que desse e viesse; e veio de tudo, com tudo, pra tudo ficar melhor.
Ganhei crianças ao meu redor, brinquei, troquei cartas, dancei. Fiz um filme! Tirei o siso, peguei piolho, caí de moto, mas tá valendo.

É fantástica magia que o tempo dá para as coisas.
Tudo que não sarava nunca, sarou.
Por isso, dispenso o final feliz; prefiro começos e meios inventados todo dia, com amor.

E “sem amor eu nada seria”, só para constar.


Um beijo.
Obrigada a todos que fizeram parte disso.

30 de outubro de 2009

Quando termino uma semana assim, feito essa, pressinto que estou exatamente onde deveria estar.

25 de outubro de 2009

acho que nem era pra ser mesmo não.

mas é que eu queria
eu quero
e vou querer amanhã cedo (se estiver viva).


certeza isso.
certeza!

21 de outubro de 2009

A lista

Ah!
Como ia ser bonito a gente...
Eu aprendia cozinhar,
tirava a bicicleta do quartinho.
Como ia ser bom.
Perdia essa cisma de animais domésticos, por você.
Minha grosseria.
Uma ou outra mania, talvez.
Era uma lista de promessas debaixo do meu travesseiro.
Umas cinquenta páginas, com letra miúda!

É que o amor desperta essas vontades absurdas
na gente.
E a gente quebra a cara,

mas sempre refaz a lista.

17 de outubro de 2009

A beleza do ofício

Trabalho para aprender,
porque as crianças vão comigo.
Elas perdoam minha visão turva sobre a vida,
e tem paciência com meus defeitos.

Tenho o melhor emprego do mundo,
mas nunca contei a ninguém:
ganho para ver humanos crescerem,
assim, bem perto.
Esse é o milagre mais bonito dessa Terra.

Carrego minha voz e meu colo.
Eles são suficientes.
Por isso, sou habituada a tantos mimos infantis
e tornei-me carinhosa até com as pedras.

Nunca fui nada.
Nunca tive nada.
Hoje sou jardim inteiro,
pois elas plantam o melhor em mim,
dividindo, pacientemente, o mistério das coisas.

13 de outubro de 2009

Blog: curtos espaços de tempo
feitos para gritar.
Meu amor continua bobo e infantil,
mas não é vergonha não.
Meu amor é a melhor coisa que eu sei fazer.

Talvez a única.

12 de outubro de 2009

Nada não.

Ela era minha menina, só minha.
Não é mais não.
Eu queria ela bem perto,
ela fugia.
Meus carinhos sem medida
machucavam até a mim.
Eu fazia tudo sonho,
ela vinha e desfazia.
Coitadinha da menina,
não sabia, não sabia.
Desenhava ela no ar,
arrumava o vestidinho.
Ela sofria.
Eu criei o céu perfeito,
porém não foi direito obrigá-la a morar lá.
Quando olhei, estava só.
Só podia ser assim.
Não morreu, não brigamos, nada não.

E era melhor se fosse tudo.

8 de outubro de 2009

Toda tarde toda

Quando me perguntam como estou
já não abro despudoramente as janelas.
Explicar minhas voltas é em vão.
Devido à insistência, eu peco.
Invento romances, proposta de casório e a esperança de muitos muitos filhos,
(ou prometo perder vida em trabalho aborrecido).

Tenho curva,
perdoem as linhas retas.

Existem poucos mortais interessantes
para dialogar nas tardes vazias.
E também nas tardes cheias.

27 de setembro de 2009

Mil perdões

O fato é que somam-se cansaço, resfriado e solidão.
Não há o que escrever quando interior e exterior se partem.
Podia recorrer às mazelas sentimentais,
reclamando o amor que não vem,
o preço do leite
- vocês viram o preço do leite?
mas teria de parar para assoar o nariz nas toalhas brancas do bom senso.
Estou cansada de um cansaço
que não tem começo e nem fim.
Peço que orem aos seus Deuses do Olimpo,
porque 'fim do mundo' é o exílio dos poetas.

26 de setembro de 2009

Por ser tão excesso, preciso cortar... Mas prefiro assim: me transbordo para festejar o mistério.

4 de setembro de 2009

Para dizer, mas não disse.

Queria que ela soubesse
que cruzo em pensamento a distância toda,
todo dia,
porque gosto muito dela.

Veio descalça,
enraizou e nasceu flor bonita.
Teve desejos de estrada,
desde então não brotou mais nada.

É estranho, confuso e avesso,
mas arrisco,
porque são dela
as tardes na calçada vendo o sol desmaiar.

Inevitável foi olhar bem perto.
Minha paixão de criança
pelo inseto.

18 de agosto de 2009

Miséria dos tempos ou a morte da poesia.

E se de repente for assim:
imaginação não move uma agulha de onde
a razão colocar essa maldita agulha.

céu for apenas céu
lua cuspir São Jorge
poeira tornar-se pó


Sem drama, sem dor,
nenhuma poesia.

E se de repente for assim?

paraíso queimar em sol

astro virar satélite
poeira cobrindo tudo
sem comiseração.

E se de repente foi em vão?


suspiro apagar a luz
cinzenta rasgando chão
poeira assentar e fim.


E se de repente for, pra mim?
Conviver é ver filme que não quer.
Ouvir quando quer falar.
Aturar apontamentos
nas coisas mais sagradas.



Conviver com gente chata, é claro.

O individualismo é a coisa mais coletiva dos nossos tempos.
- Quanto mais me encontro, mais me encontro sozinha.
Meus vinte e poucos,
tão cansados, tão cansados.

Eu quero andar descalça,

despenteada, cantando o que não existe.

6 de agosto de 2009

Senhora, nobre senhora.

Sou muito mulher do meu tempo.
Carrego o mistério da vida
e das guerreiras que me antecederam o poder de ter ou não essa vida.
Não preciso casar pra ser gente,
nem amarrar meus pés a corrente alguma que não seja do meu agrado.
Prefiro aprisionar-me aos livros,
subjugar-me aos meus.
Se costuro é para trançar destinos.
Se cozinho, feitiços num solitário ritual.
Nada pode me prender
que não amor.

Sem feminismo,
necessito libertar desejos,
pois arte está no que penso ou sinto com espaço;
e respeito é território duramente conquistado.

Ser anjo;
ser puta;
estar várias é milagre feminino.

De cabeça erguida, grito alto:
"sou quem quiser,
não o que querem,
por conceber das minhas entranhas
o próprio poder da escolha.
Humana, falível, imperfeita e deliciosamente dona de mim."

Sou nobre senhora do meu tempo.

4 de agosto de 2009

Quando não se tem mais nada a dizer
é realmente algo preocupante.

26 de julho de 2009

imagem por: Arlene Graston

Adoro mar, mas não sei nadar até hoje.
Quando pequena, meu pai me jogou na piscina por desejar meus genes idênticos aos dele - ótimo nadador desde sempre - não são.
Hoje, águas fascinam e dão tontura, numa espécie de atração com repulsa, assim como sinto coisas desconhecidas.
Pessoas também atraem e dão enjoo.
Preciso estar "dois"
- com quem veja desenhos nas nuvens.

Matemática das coisas tristes.

Deixei recado no portão:
“Você anda ocupado demais
para pequenas delicadezas.”
Preciso derrubar sorvete na sua camisa e rir.
Saber histórias secretas
do mundo (que só existe) depois de você.
Impossível dividir monólogo
sem valsa.

Dois pra lá, dois pra cá...
- Dois.

21 de julho de 2009

Além do céu.

Esse campo tem horizontes maiores,
não menos distantes,
mais bonitos talvez.
Sou canções para chegar lá.
Vou escorregando de mãos dadas com o sonho
de ser grande.
Passageira, do ventre aos pés,
mistério solitário
sob nuvens do universo.
Não quero menos que o mundo,
porque sou mundo também.
Por querer tudo, tudo sou eu.
Ciranda nos braços da roda
do amor.
Entre fardo e luz, criatura perdida,
que salta abismos para voltar


e volta.

Devagar, posso tocar as coisas
e ser tocada,
silenciosamente.

9 de julho de 2009

Cartão vermelho.

Ouço pai e irmão
discutirem jogos pelos cantos,
sem argumento para acrescentar.
Vivencio a religião futebol
com o silêncio de um ateu.

Passos frêmitos sobre roseiral.

Admiro os poetas que levam anos
para escrever seus versos.
Os meus são cuspidos às pressas,
porque tenho medo da morte
e fome de tempo.

Depois, ao reler,
aparo arestas
com firmeza de um ladrão de rosas
sob luz do lampião.

Se morrer,
perfeição será mero detalhe.

O importante é que senti e disse.
Minha poesia é a junção desses segundos.

Não se engane:
a vida é estrada que se percorre sozinho.

Família, amigos, namorado, patrão.

A vida é estranha que se percorre sozinho.

Tente fechar os olhos e escapar
do terrível julgamento da mente.

Estrada que nos percorre sozinha: a vida.

E por nos atravessar, somos fortes.
E por atravessá-la, memória.

8 de julho de 2009

Ensaio sobre a fatalidade e a escolha.

Vender versos nas portas
é tão digno quanto oferecer tapetes e lustrar panelas.
Alguma pessoas, avaliando o serviço,
ou por comiseração, podem comprar seus livretos.
Você conquistará leitores adormecidos,
despertará escritores.
Um, ou outro amigo importante. Por que não?
Poetas são ácidos, mas ótima companhia para o chá.
Com o tempo, o escritor caberá nos anseios dos leitores mais fiéis.
Sugerirão temas, você ouvirá com atenção demasiada.
Poemas sobre obviedades cotidianas.
Leves e confortáveis como uma tarde na calçada.
Sim, sim! Uma biografia digna.

"Senhor fulano de tal, profissão: poeta.
Sobreviveu de poesia."

- Milagre! - dirão os incrédulos.
- Poeta? - dirão os poetas.
- A que preço? - questionará você mesmo. (ou não)


Conservarei minha poesia virginal perante a prostituição do mundo. (ou não?)

Azáfama

Minhas escolhas
são riscos demais pra colher.

Do meu tempo,
faço versos,
porque não sei ser outra forma
que não essa.

Se todos desistiram de compreender,
não sou clara
como gostaria.

Os poucos que restaram,
ou aceitaram,
ou são tão confusos como eu.

Não quero andar em círculos.

Tenho fé, honestidade e caráter
como herança.

Sem medo,
ou planos grandiosos:
eu vou.

Gostaria que muitos fossem comigo,
mas meu tempo tem mais pressa;
e não estou disposta a esperar.

3 de julho de 2009

Ao Rei.

Existem pessoas íntimas,
sem ser.
Fotos tão familiares,
quanto a de nossos pais.
Anjos sem sexo,
almas sem cor,
que abalam nossa hipocrisia.

Acredito em poetas-dançarinos,
poetas-cantores;
pessoas tão iluminadas
quanto incompreendidas,

porque sei da mágica,
sem entender o truque.

Peço perdão se
idolatrei a mídia cruel.

Hoje, guardo a lógica para realidade

e sonhos para sonhar, apenas.
Sem peso, sem dor.
Simples como A B C,
ou 1 2 3.
Eterno amor preso na atmosfera
depois que você se foi.


- O sol nascerá dançando suas canções.

30 de junho de 2009

Asas de lagarta (ou pernas de borboleta?)

Como pode um objeto de amor
simplesmente não ser mais?
Quantos degraus andei
sem notar?

Em meio a canções antigas
fluindo dos seus lábios;
Entre revoltas tristes e pedidos de retorno;
E súplicas desesperadas de perdão,
segui firme em direção ao sol.

De mim, imagem parada,
estática e desamante,
surgiu a liberdade.

Seus olhos,
curiosos dos caminhos secretos,
das minhas pernas cúmplices do tempo,
apertavam meu pescoço em busca da confissão.
- Não contei.

O coração inteiro-vivo-forte nas mãos, mas não contei.
Porque esse segredo é só meu.

26 de junho de 2009

Da mania de sonhar acordada.

Ao deitar nos lençóis
o sono desce ao meu corpo
e sobe aos céus, sem sonhos.
Que o leitor não se espante,
não é tristeza.
Sonho tanto acordada,
que gasto minha cota
antes do anoitecer.

21 de junho de 2009

Tenho tantos heterônimos, mas ele não se encaixa com nenhum.
(se tivesse 5 anos a discussão terminaria com a união dos dedos mindinhos.)

- Devo ter perdido meu Alberto Caeiro nos parques da infância.

Asma.

Quero estar junto.
Não além dos mundos obscuros
que são meus.
Quero estar, indiscutivelmente, distante.
Enquanto a linha entre dor e retorno
estiver desenhada nos meus braços.
Se você entendesse...
Se você entendesse essa coisa...
saberia minha vida abraçada na sua.
Há necessidade de espaço
para minha claustrofobia amorosa.

Não é morte.

São asas.

15 de junho de 2009

Dilema da Flor

Então foi assim: ela brilhava, não porque era melhor que as outras flores; por estar feliz consigo mesma: uma conquista da vida inteira.
O jardim pôs-se a paparicá-la com mimos, porém, alguns se incomodaram da presença dela.

Nossa delicada protagonista sentiu-se culpada, pois não queria jardim repartido.
Ninguém sabia sua história de patinho feio até o florescer dos galhos, como podiam julgá-la de maria-exibida? Melhor ficar debaixo da terra para não desequilibrar as leis da botânica? Ou deveria perder algumas pétalas, passando por erva-daninha?
Enquanto pensava no assunto, brotinhos deitavam ao pé da roseira para ouvir suas canções de ninar.

12 de junho de 2009

Dia dos namorados é meu preferido. Gosto do cheiro das rosas, das pessoas com olhares distantes e carinhosos. Também gosto de saber que o amor existe, se renova e permanece.

10 de junho de 2009

O salto

Encontrei parentes antigos como a minha história; perdidos no tempo.
Estavam lá, independente da nossa distância.
Cabelos brancos, rugas desenhadas pelo vento: pois sim, o mundo continuou girando sem mim, e continuará! Que egoísmo não perceber o óbvio movimento das marés.
Gestos inesperados contrariaram previsões. Será que cresceram? Será que mudei?
Foi estranho pisar no conhecido sem julgar, ou lembrar daquelas velhas mágoas que não me pertencem mais.
Cultivar bondade em terreno difícil, preenchendo espaços, é uma forma de sublimação.

- Foi abrir os braços, fechar os olhos e pular.
A Thami com que a Pri sonha
está no sonho
ou na fronha?

não sei...

- menina risonha nunca me deixe acordar.

25 de maio de 2009

Rosa Chilena

{Fica registrada aqui minha participação na 9° feira do livro de Ribeirão Preto, com um poema dedicado ao Chile}


Irmãos, é tempo:
Águas chilenas carregam os frágeis cordões da memória.
Dos Mapuches o sangue que brota nas grutas da terra,
A luta renasce do vento.
Santiago, orai por nós
que queremos a liberdade.

Neruda pescando em abismos
o amor maior e mais bonito.
Santiago, orai por nós,
anjos caídos da poesia.

Dos jardins das Violetas, as vozes do espírito.
Santiago, somos a própria canção, cantai!

A aridez do Atacama que rasga crenças
e abre asas.
O milagre da sobrevivência.
Santiago, somos lágrimas.
E fé.

Ditadores subirão altivos,
mas águas antigas abrirão janelas.
Na aspereza da estrada
marcamos o próprio destino.
Santiago, lutai conosco:
chilenos e veias e punhos!

Acende uma vela no nosso peito
maior que o céu dos Andes.
Azul, branca e vermelha,
para abrir raízes nessa América sem fim.

23 de maio de 2009

Pouco riso e pouco siso.

Eu pensava que fosse mais dolorido tirar uma parte sentimental: perder um amor, uma época boa da gente.

Hoje vou tirar meu siso, que é um pequeno pedaço de osso que cresceu.

Na verdade, a dor não é medo. O fato é que ele nasceu errado, sem espaço, como várias coisas nascem; e que sempre escondi dos outros, e de mim, essa situação.

Não adianta! Coisas tortas uma hora ficam alarmantes, por mais que o discurso para si mesmo seja de deixar passar. Uma hora parece que desce um sinal dos céus e cai bem na sua cabeça, dizendo que nada errado dura muito tempo.

Não estou triste em olhar para o espelho e ver o futuro sem sisos; mas em pensar que muito que eu amava era torto também e teve que ir.

Já me culpei por não ter feito o suficiente, mas hoje percebo que certas coisas estão fora do alcance. Algumas pessoas são tortas porque não sabem ser de outra maneira. E o que é torto para mim, talvez não seja para outros.

Ah...

Essa história de dente (e de gente) é mesmo bastante dolorida...



( abraço à Thami, pela compreensão nesse momento)

19 de maio de 2009

Sou pedagoga formada e escritora por amor (longainterminável pausa poética).

16 de maio de 2009



Retirada do site: http://depositodocalvin.blogspot.com/

(clique na tirinha para aumentar!)

- Coluna do leitor

Lembram do Godofredo (meu amigo imaginário)? Ele foi importantíssimo nos últimos anos de faculdade, nos meus primeiros passos como 'adulta responsável'... Quem lê o blog desde o começo ( mãe, tia, vó!!!) sabe do trabalhão que dou a ele. Afff!
Breve meu A.I. aparece para mais aventuras: sentimentais, ou não.
Para as novas pessoas que passaram por aqui, obrigada! Leio os comentários e fico lisonjeada, apesar de meio sem-graça - confesso! Dá um pouco de vergonha!
Pretendo voltar com dicas musicais também: estou - meiototalmente - relapsa.
Bom é isso, um abraço!

Até :)

Areia do sono.

Quando a casa dorme
escuto o vento
conversando com o espaço.
Os passos do homem solitário
afundando na calçada.
Ou o guardinha que passa...
Apitando.

Longe, lá na pracinha, tem coruja.
Minha vó dizia que coruja é ruim,
porque traz morte.
Eu escuto ela todo dia,
mas nunca morri.

A rua anda ao contrário de noite.
Casas deitam-se umas nas outras
e bocejam.
Muros curvam-se silenciosamente.
Ouço códigos secretos do mundo inteiro,
porque sinto o chão respirar.

Luzes dos postes piscam sonolentas
para minha janela,
cerrando o som da rua.

- Então,
eu durmo.

14 de maio de 2009


Minha mãe ensinou que só devo colocar o amaciante quando a máquina estiver na letra ‘x’ do enxaguar; Cataflan é um remédio milagroso, curando desde doenças gravíssimas até dor no dedinho do pé; não adianta limpar a cozinha sem passar pano na casa toda: suja em menos de dois dias.
Discorreu diversas vezes sobre minha falta de memória em avisar onde estou. E sobre a necessidade da oração ao sair de casa. - Sempre esqueço.
Tem os melhores produtos de beleza, as melhores maneiras de amarrar um cachecol.
Suas fotos, em todas as épocas possíveis e imagináveis, são mais bonitas: mais delicada, mais expressiva. -Sorriso que terminou diversas guerras e começou outras tantas.
E mesmo com TUDO isso, diz ser minha fã! Que adora meu cheiro, minhas coisinhas tão bobas...

Essa história de maternidade não é a coisa mais bonita que você já viu?

12 de maio de 2009

Sobre Heráclito e o rio.

Cresci numa eterna repetição: morei sempre no mesmo lugar, estudei na mesma escola.
Achava minha vida um tédio por esses motivos, mas fui convencida que o novo era algo perigoso, devendo ser repelido a qualquer custo.
Hoje, tudo virou do avesso e percebo que todo esse tempo ‘resguardada’ não facilitou meus dias. É impossível saber as regras, por mais que eu queira, por mais que me desespere procurando a lógica dos fatos.
Estudei na mesma escola, mas fui perdendo amigos pelo caminho. Morei na mesma casa, mas nem sei mais os nomes dos meus vizinhos! Pessoas que estavam sempre perto, não existem mais. Lugares onde brincava, a árvore que mais gostava... pra onde foi todo mundo? Até mesmo a Língua Portuguesa mudou.


- Tenho pesadelos com essa realidade arredia, que não cabe mais em minhas mãos, ou sou eu que não me reconheço mais?

Sobre os desejos.

Um marido de poucos amigos.
Um filho homem.
E uma casa sem telefone.

9 de maio de 2009

Arquitetura da solidão.

Vivi buscando amizades para ter carinho, proteção, amor. Não correspondida, tentei impor ‘filosofias bem intencionadas'. Como o Pequeno Príncipe ensina o aviador, ou a mãe empurra o filho em passos atrapalhados.
O fato é que pessoas não mudam porque nós queremos; mudam porque querem e quando querem muito.
Cansei de cobrar dos outros meu amor próprio. Mas sinto-me, cada dia mais, uma muralha de auto-preservação.

8 de maio de 2009

O eterno sono.

Serei eu a Bela Adormecida moderna? Que não luta pelos objetivos, vê a vida passar e espera grandes paixões baterem na porta?
- Estou acomodada demais: adormecida.
A opção 'dormir 100 anos', contrária a morte instantânea, não parece das melhores opções. Dormir não é uma espécie de morte? E acordar somente com um príncipe não é delegar a terceiros a própria felicidade?

22 de abril de 2009

Limpando meu armario descobri várias de mim que não reconheço mais. Coloquei-as numa sacola e deixei longe dos olhos. {...} Lógico que voltei depois e repassei uma por uma: é incrível como coisas materiais podem contar trechos da vida!

Conversei com vestidos que embalaram paixonites agudas; calças que prometeram mudanças radicais; alguns sapatos que me levaram a locais distantes ou dançaram minhas músicas preferidas: tão agarrados, tão juntos!

Mas agora, olhando para esses pedaços vivos espalhados sobre a cama, percebo como essas fases precisam ir. Não me cabem mais essas meninas, mulheres e senhoras. Estou morando em outras casas, mais espaçosas (não menos complicadas), com um ar 23 anos, sabe?



Quando o passado está apenas por dentro, me desespera menos ver o tempo correr de mim.

19 de abril de 2009

Ao J.P.C.

Procurei por muito tempo
demonstrações rasgadas de amor:
sem vagas.
E o mais incrível, o mais bonito,
é que me encontraram antes que me virasse.
E recebi um abraço vindo não sei bem de onde,
nem sei bem por quem,
mas tão bonito que me arrebatou.
Já posso dizer da busca não buscada,
do desejo tão forte de encontrar o amor
que abre todas as vagas no topo do mundo!
Obrigada Jardim pelas flores primaveris
colhidas em pleno outono!
Essa transposição de estações
é meu presente...
meu pequeno GRANDE milagre.

26 de março de 2009

Guardo meu susto para pequenas coisas, singelas e belas e simples. E só.

22 de março de 2009

Poderia ficar horas pensando em como seria a foto depois que ele caísse. Também poderia ficar horas pensando que ele voa mesmo e não vai cair nunca mais.

Canção para dar certo.

O outono é cheio de desejos.
Amizades novas são cheias de esperança.
Eu sou cheia de desejos e esperança.


Novos dias, não demorem.
Novos rostos, não se afastem.
Espero com muitas de mim
deitada na escada do tempo.


Quero dias melhores, porque
tristes já sei de cor.
E amigos melhores, porque
ruins já sei demais.


Mas o outono é só desejo.
Os ponteiros se encarregam das respostas.

7 de março de 2009

Não me procure onde estou,
Não me queira nas multidões.
Meus versos não cabem no mundo.
O fardo das palavras,
mesmo as não escritas,
me pesa.
Já gostei de estar junto.
Mas o tempo passou
Desaprendi.

12 de fevereiro de 2009

Minha juventude guarda
toda a incerteza do mundo.

9 de fevereiro de 2009

A viagem.

Não quero ser porta-estandarte de inteligência,
nem preciso ser mulher-maravilha das minhas passadas.
Acontece que quando atravessei certo ponto da estrada
e conversei com pessoas mais velhas,
surgiu um cisco do sentido da vida.
Acontece que ao ler Clarice e Drummond,
ouvir Cartola e conhecer um pouco dos versos do Caetano,
modifiquei antigas estruturas.
Quando entendi um pouco de Machado e imaginei
o mundo de Tolkien;
Conheci astrologia, filosofia, a arte diplomática de Gandhi;
Quando amei feito Madre Teresa, ou pelos menos vislumbrei amar;
Aprendi História das civilizações e das religiões
E da nações;
Quando reli livros e finalmente os tive por inteiro nas mãos,
sabendo preenchê-los de sentido com experiências da vida;
E senti a dor dos poetas e encarnei as personas do Pessoa;
Orientei-me pelos mitos antigos sabendo que eles
não abalam as estruturas científicas (sabendo dosar os dois);
Acontece que quando o conhecimento, por menor que seja,
atravessou meus ossos de forma irreversível,
fui deslocada para novas possibilidades.

Como um viajante que volta dos mares,
como um pastor que desce as montanhas:
a ALMA nunca mais é a mesma.

6 de fevereiro de 2009

Fé.

Saibam dos dias melhores.
Onde plantei esperanças
crianças
e meu amor.
Saibam em mim
um poço sereno
em meio ao turbilhão.

Durmo escadas
para despertar estrelas.

2 de fevereiro de 2009

{ }

Baladas demais.
Bebidas demais.
Barulho demais.

Sou silêncio, compreende?

Não mais feliz, ou melhor.
Apenas silêncio.

29 de janeiro de 2009

Às crianças.

Desculpem se não estarei lá.
Eu queria estar.
Essas coisas de adulto me confundem também.
Obrigada por aceitarem minha péssima memória
pra cantigas infantis!
E me lembrarem o essencial, várias vezes.
Espero encontrá-los por aí um dia
tão meus como se nunca os tivesse perdido.
Pois sempre serei de vocês.

Indiferente à distância que se acomodou nos meus braços.

22 de janeiro de 2009

Sobre depois do fim.

Existe um estado
muito muito distante
onde os sapos moram dentro das moscas.
Pernas de ganso nascem das águas
e os relógios quebram-se todos.
Existe um lugar que mora na gente
e morar nele é proibido.
Onde os cavalos flutuam em cimas das casas
E as casas flutuam em cima das gentes
E as gentes nunca morrem.
Vou voltar àquelas terras
Assim que abraçar o mundo.
Quantos tios, pais, avós me esperam.
Então não choro mais.
Porque lá os relógios quebram-se todos.


Porque, mesmo assim, eles esperam.

17 de janeiro de 2009

E depois...

Ainda dói hoje.
Vai doer menos amanhã.
Vai doer bem menos depois de amanhã.
E depois e depois e depois

- é manhã.

10 de janeiro de 2009

- Ficar 'de lado' dói muito. E não sei se dá pra colar os caquinhos mais uma vez.

:(



{O bom daqui é que posso entristecer baixinho sem ele saber}

8 de janeiro de 2009

Procura-se um amigo.

Busco um amigo para segurar mãos na tempestade, sabendo meu incontrolável medo dos trovões. E abraçar com o corpo inteiro, porque cansei de ruínas.

Perdoe o excesso de proteção: cuidar é meu verbo preferido.

6 de janeiro de 2009

Começo.

Hoje o céu me abraçou tão azul.

Fiquei sem argumentos.

Fim.

O que mais me dói nele
É a falta de dor.
É o sorriso tranquilo
De quem nada sofreu.
O que mais me dói
É ver o relógio quebrado
E o calendário sem azul.
Vai passar, eu sei,
mas vou entristecer um pouco.
Não tenho medo de sofrer o que preciso
para depois subir meus olhos
E seguir.
Vou chorar
até alcançar os espaços que restaram
Que restam?
Já nem sei mais.
Vai ser difícil me reinventar sem você
graças a essa súbita falta de criatividade.

Vou me deitar agora:
Os pés, as pernas juntas.
Os braços sem desejos.
Você vai ler meu coração antes de mim.
No muro
da parede do quarto
Subitamente fechado,
Nem vivo, nem morto:

Eterno exílio entre dois mundos.

3 de janeiro de 2009

Conclusões:


1. Sem ajudarmos uns aos outros andaremos em círculos infinitamente.

2. Declarar o amor por alguém é como respirar. Você precisa expor sentimentos para que eles não encham seus pulmões e te tornem pesado demais.

3. A beleza de uma pessoa não está nos olhos. É alguma coisa que emana deles. É a capacidade de entrar na sua alma e arrancar ervas daninhas com delicadeza.

4. Você vai se apaixonar. Vai querer perto, bem perto. Vai se horrorizar com tamanhos defeitos. Vai perdoar milhões de vezes e quando perder a conta, vai entender parte do mistério.

5. Pai e mãe são responsabilidade nossa, assim como fomos deles um dia. Pai e mãe são frágeis, tem medo do escuro e precisam de histórias para dormir.

6. Você pode ajudar o mundo de muitas maneiras. Todos têm dom para alguma coisa, desde criança sabemos; mas disseram que ‘não dá dinheiro’.

7. Sua marca é aquilo que faz as pessoas sorrirem ao pensar em você, numa hora improvável. São pontos de luz para ajudar na travessia do caminho.          

1 de janeiro de 2009

Vídeo de aniversário!!!

- 23 anos!

:)