12 de julho de 2021

Quinta conversa

 Cada vez que sento do outro lado do volante é como se você estivesse lá também. Carrego seus genes, sua história, mas também o peso de nunca decepcioná-lo. Quero aprender com leveza a carregar sua bandeira, meu pai. Me ajuda?

9 de julho de 2021

Quarta conversa

Desprendi uma parte importante de mim e ela flutua por aí, por isso posso andar um pouco mais longe. Hoje eu fui até a cerca no quintal, amanhã, talvez atravesse. Tem uma parte importante minha solta no mundo, então quero ser mais ampla para alcançá-la.

Se tenho uma parte faltando é porque um dia experimentei o laço do amor: esse pensamento me ilumina.

Terceira conversa

Oi, pai. Hoje no supermercado fiquei namorando a farinha láctea que você tanto gostava. Não sei se tem poesia nisso, eu parada no corredor com os olhos cheios de água olhando uma lata, mas me permito acreditar que sim para o mundo ficar mais bonito. Tudo tem poesia depois de você.

Obrigada.

5 de julho de 2021

Segunda conversa.

Quando me sinto injustiçada por perder você, lembro da criança que você é. Lembro que perdeu seus pais também. Você sentiu medo? Frio? Antes de dormir, nas suas orações, pedia pra aprender ser adulto para cuidar da gente? Porque estou tentando ser adulta também, mas tenho muito medo. 

Espero que reencontre seus pais, meu pai. E quando voltar a ser o menino que sempre te habitou, seja ainda mais feliz.


1 de julho de 2021

Primeira conversa

 Oi, pai. Hoje olhei seus velhos chinelos debaixo da cama. Estão no mesmo lugar que você deixou. Fiquei pensando no frio desses dias... você pode ficar resfriado se andar descalço por aí. Está usando meias? Por favor, se cuide, se agasalhe bem, eu te amo muito. 


Um beijo da sua filha.