30 de novembro de 2018

Tenho vários dias em 2018 que não me lembro especificamente, sem canção, amor, ou livros. Eles são as pausas necessárias entre uma epifania e um sobressalto. A vida não é Instagram.
Reprovar um aluno é um movimento interno, porque acaba mexendo com a gente também. Fico pensando nas possibilidades perdidas ou ganhas, nas amizades desfeitas ou novas. São vidas, é minha vida também. Sabedoria é meu pedido de Natal.
Ultimamente os textos saem tortos, doloridos, inacabados. Antes, tinha uma velocidade em dizer. Agora, estou precisando escutar.

28 de novembro de 2018

Sobre elefantes e bailarinas

Saí do trabalho, cansada, sem dormir direito, numa TPM desgraçada, entrei no ônibus e senti vontade de chorar. 
É uma viagem longa, tempo suficiente para filosofar. Daí pensei: as qualidades são bailarinas suaves flutuando por aí; defeitos são elefantes desastrados numa loja de cristais. O mais maluco é que perfeição também enche o saco, bem como falhas nos tornam humanos! Por que amaldiçoamos tanto nosso pior lado? 

Fiquei um bom tempo nessa metáfora, desconstruindo-a para me divertir um pouco, imaginando elefantes de tutu e bailarinas possíveis. Perdi o ponto da descida. 
Estava cansada, sem dormir direito e agora, misteriosamente, sem vontade de chorar. Minhas últimas forças foram usadas para voltar pra casa, dessa vez, sem metáforas.

18 de novembro de 2018

Afeto

Banho seguido do sutiã mais bonito: 
Aquele preto rendado com calcinha combinando. 
Babados nas mangas, 
Uma bermuda jeans escuro, cinto marrom. 
Duas gotas de lavanda atrás das orelhas seguidas do suspiro profundo – para ocorrer simbiose entre perfume e espírito. 
Na bolsa: tic -tac, celular, cartões, um bilhete amassado, caderno de anotações (caso um poema surja), canetas sem tampa, grampos. 
Cabelo à la Botticelli desce encaracolado até o ombro como serpentes hipnotizadas pelo vento. Ondas douradas. Nada de colares ou pulseiras, apenas um sorriso marfim correndo entre os lábios rosados, carnudos, molduras perfeitas para Natureza dentro e fora dela. Dona do tempo. Faz chover nas roseiras. Sua timidez é o mais puro encantamento herdado das fadas. Seria a voz mais calmante dessa Terra, ou aqueles olhos úmidos, pequeninos no tamanho e grandiosos na luz? 
Começo a considerar a possibilidade de estar diante de um ser translúcido, inquebrantável e fértil, personificação sagrada da vida. Logo eu, anjo da guarda experiente, anos prestados à obra maior, serei julgado por quebra de contrato, pois prometi acompanhá-la nos percalços da existência e me encontro irremediavelmente enamorado. 
Ó Deus, perdoai minha falta. Ou meus excessos. Seria impossível não me derreter em amores infindos, pois convivendo tão perto pude ver o esplendor desse ser. Entrego meus títulos, abandono tudo, mas não me prive dessa companhia até o último suspiro. Até nos juntarmos novamente para que eu possa tirá-la para dançar.

16 de novembro de 2018

Chamado

Querido, estou aqui. 
Cheguei a ponta de mim, ao topo, ao cume, 
Estou de braços abertos gritando poesia do alto. 
Você pode escalar, ficar me olhando, 
Pode até ir, se quiser. 
Preciso saber quem estará ao meu lado porque é hora, 
O mundo está posto. 
Estou aqui, no alto de mim, perto das nuvens, 
E tudo é claro: 
Há muito trabalho a ser feito. 
Existe sempre o risco da queda, mas o céu noturno está uma beleza. 
Posso contar contigo?

11 de novembro de 2018

Aqui

Acendam as fogueiras 
Chuva de pássaros 
O dia clareou loucamente 
Desarmem as bombas 
Tempestade de bênçãos previstas para a semana toda: 
Ele está aqui. 
O amor saúda a todos com um giro triunfal. 
Retira a cartola, sai cambaleante sobre a corda, e ri. 
O amor é hilário de bom. 
O que a gente precisa é rir junto com ele.