11 de agosto de 2015

Das cartas II

Nunca! Como pôde pensar isso?  Te tenho em grande afeto. Mesmo depois daquele dia que você sumiu, lembra?  Te encontrei naquele esconderijo do sofá,  com medo de levar bronca. Você,  diferente do porquinho da Índia,  sempre preferiu grandes almofadas. 
Nunca vou brigar contigo por querer estar sozinho,  por mais que o monstro da carência roa meus dedinhos do pé.  Eu mastigo as unhas e como minhas mãos,  mas sei esperar. Enquanto está longe, fiz mil planos. Cortar o cabelo,  uma viagem talvez. Tem também umas cartas, logo saberá.  Nelas usarei metáforas de morte, fique frio, nunca foi meu desejo.  Se fosse pra querer alguma coisa,  um chute no seu saco já estava de bom tamanho. 

Das cartas I

Desde então todas as palavras estão aqui, dentro de mim, mas um dia farei um cordão. Elas sairão feito truque de mágica da minha boca sobre a platéia, atônita. Sou boa nisso: guardadora de palavras que queria dizer, mas pensei depois, enquanto voltava pra casa. Tudo soa estúpido, nas horas erradas. Esse texto, por exemplo, era muito melhor na minha cabeça. Talvez delete. O fato é que ando a procura de alguém macio, onde possa deitar palavras e achei que você era assim, bem confortável pra toda essa timidez. Pessoas ásperas já vi demais, tenho medo de me tornar assim, se é que ainda não me tornei. 
Tô com medo. Você pode me martelar (com martelinho de carne) se um dia eu endurecer e perder a ternura?

1 de agosto de 2015

Etérea

Não dá mais pra brincar com sentimentos
meus ossos estão velhos
Se não for pra ancorar
Que a maré leve, bem longe
porque meus ossos estão leves
Demais
Quase flutuam de livres
Amor não foi feito pra doer.