29 de janeiro de 2017

Território desconhecido

Às vezes me pego querendo
Que seu amor seja feito o meu,
Mas amo dentro de um corpo feminino
Produzido em 1986.
Nós nunca estaremos do mesmo lado da ponte.
Resta enviar cartas, um ao outro,
- Como está o tempo aí?
Para tentar descrever o indescritível.
Você mora num corpo masculino de 1983,
Território desconhecido.
Gostaria imensamente que minhas mensagens chegassem,
Seja lá qual for o endereço do seu coração.

16 de janeiro de 2017

Barco de papel

Quando criança inventava as falas das pessoas na cabeça,
Mas nunca respondiam o que imaginei.
Quer saber?
Tudo bem essa mania controladora
Que sempre dá errado.
Tudo bem o universo inverter as coisas
Obrigando-me improvisar todo dia.
Sigo mapas,
Preciso atracar por aí, de vez em quando,
Seja meu porto seguro.
E se não for, paciência.
Navegar é preciso, viver jamais será.

14 de janeiro de 2017

Não contém

Tenho alguns pedaços soltos
Nos bolsos
Alguns versos inúteis
Nas mangas
Você se assustaria coma água do fundo do poço
Do meu poço?
Que me esforço todo (santo) dia para limpar
Enquanto terríveis pensamentos tentam turvá-la.
Em um mundo árido, me dou liberdade pra ser líquida.
Sou seu risco iminente de emborcação.

11 de janeiro de 2017

Las Moiras

Quando a luz cai,
Três mulheres me atravessam.
São bocas, cabelos e mãos
Movendo suas teias sobre mim.
Quando a realidade é previsível demais,
Elas desenham meu ponto de virada
A noite toda.
Mulheres aracnídeos são sempre surpreendentes.
Podem bordar sua vida toda,
Podem desfazê-la em um segundo.
Por isso madrugadas são traiçoeiras.
Quando amanhece, já não sabemos mais nada,
Nada está onde deixamos.