22 de dezembro de 2016

O parto.

Estou aqui,
Pés cambaleantes,
Diante da novidade.
Agora compreendo sobre corda bamba
Com igual ou mais propriedade que a equilibrista do circo.
Uma reunião (na minha cabeça) entre diversas personas
Convocou o parto:
A menina, com seu urso, chora.
A idosa, tricota roupas para cobrir vergonhas.
A mãe, abre os braços, emocionada.
Nascerá mulher
E todas unem-se para ampará-la no ar.
Agora compreendo sobre corda bamba
Com igual ou mais propriedade que a equilibrista do circo.
Não é sobre leis da física,

É sobre o nascimento da poesia.

5 de dezembro de 2016

O insustentável feminino

Tenho medo de cair,
Um dia nem mesmo as palavras me salvarem de mim mesma.
Tenho medo de nunca mais te amar.
Carrego um coração estranho
Que toca forte na superfície dos sentimentos,
Mas quando ascende,
Existe uma repulsa
De mim sobre o objeto amado,
Suspensa por fios de aço.
É parir ao contrário,
Porque eu, também eleita,
Herdei fio,roca, torre
E o medo de altura.
Não posso decidir sobre seu sagrado,
Quando você entrega em meus braços algo que posso massacrar.
Sou mulher, inauguro territórios desconhecidos,
Com uma força além de mim.
Podia estar tudo bem,
Mas minha Medeia engole
Tudo que não se opõe a ela com paixão.
Engrandece seu masculino,
Pois anseio, ardentemente, alguém tão inteiro quanto eu.

29 de novembro de 2016

Vó Preta

Essa noite te vi subir por um tapete florido.  Perdoe o espanto, não é todo dia que uma matriarca chega nas terras celestiais. Que surpresa boba a minha
por imaginar que você subiria de outro jeito, a não ser por um jardim.
Sabe, um dia li que já estive em seu útero, através da minha mãe:
Fica um pouco do seu queixo no queixo da sua neta...
Então, aqui estou, braços estendidos carregando sua bandeira.
Essa carta é pra dizer obrigada, vó, eu vou herdar você pra sempre.

28 de novembro de 2016

Existe uma casa escondida no meio da vida Portando o estandarte da resistência. Essa família carrega a profecia, O baque, Os mistérios. Carrega quem chega também, Para uma versão melhor de nós mesmos. Porque existe essa casa no meio da vida, Então nosso caminho há de ser radiante. Se há respeito nos propósitos, Orùnmilá: Faz de mim navegante.

27 de novembro de 2016

Olho-d'água

Vê?  
Meu corpo escorregando por entre seus dedos, 
É minha maneira de abraçar você como um rio. 
Sente? 
Meus pensamentos indo sondar seus desejos? 
Todas as vezes que tocar a liquidez do mundo 
Restará um pouco de mim aí dentro 
Porque nossas águas se misturaram um dia. 
Lembra? 
Naquele beijo.

23 de novembro de 2016

A primavera das lagartas

Um dia minha aluna chegou queimada de sol, descascando no rosto. Ela ficou tímida e não queria entrar, daí fiquei pensando em quantas vezes me privei por não achar minha aparência boa.
Quando uma pessoa próxima adoeceu, percebi que dias ensolarados voam como o tempo anda pra frente, e resolvi viver. Nos dias nublados, se estou insegura, um sorriso abre-alas ajuda embelezar as coisas.
Quanto a pequenina do começo da história, acabou ficando. Eu lhe disse que "lagarta precisa descascar pra virar borboleta" e ela entendeu. Crianças entendem sobre urgência rápidamente, bem mais rápido que os adultos.

20 de novembro de 2016

Êxtase

Todos desejos que tive,
Sonhos obscenos,
Todas as malícias,
Meu sangue quente por dentro
Criando universos inteiros
Com a ponta dos dedos.
Todos meus beijos, saliva, suor,
Meu feminino engolindo seu ser e lhe devolvendo mais adiante
Na eternidade.
Cada roçar de peles
Na combustão espontânea do meu coração no seu:
Foi verso.
Porque sou movida a palavra, meu amor.
Por isso,
Encosta sua literatura na minha
Antes das suas mãos tocarem meu corpo.
As letras serão cama dos meus quereres mais profundos
Pois são delas minha carne poética e animalesca.
Toca meus signos, pacientemente,
Que de beleza enfeitarei seu corpo.
E nosso princípio será Verbo.

14 de novembro de 2016

Sobre possuir as significâncias

Meu amor são fitas coloridas
amarradas nas barbas brancas das horas.
Meu amor são.
Apesar de tantas vezes louco
e outras tantas só...
Ele insiste em enfeitar plural por toda gente
porque salpicar universos inteiros na cor
é missão amorosa.
Não sei das coisas,
mas quando vislumbro esse sentimento,
possuo as significâncias do mundo.

29 de outubro de 2016

levitate

A conta é fácil: menos sapatos,
bolsas,
camisas
Te liberam o peso extra.
Tenho 30 anos,
Quanto tiver 60 não terei mais nada

E flutuarei.

20 de outubro de 2016

septem

Debaixo dos sete véus da minha alma
Existe uma donzela medieval.
Que se encontra atrás de sete portas,
Protegidas por sete dragões.
Quando você chegar,
E véu por véu desvendar,
Te darei sete beijos

Sob um céu de sete luas.

13 de outubro de 2016

Démodé

Às vezes sinto que já cicatrizou.
Às vezes dói como se um ponto
Sem nó,
Um fio sem pouso ou chegada,
Uma linha sem ouvidos
Arrebentasse tudo.
Tenho plena convicção que já cicatrizou.
Mas às vezes me dá vontade de costurar
Universos paralelos, contigo.
Alinhavando a sem-lógica da vida.
.
Caminho sobre os tecidos do tempo:
Talvez você esteja bordado fora de moda

(e de mim).

9 de outubro de 2016

Mostro minha beleza pra levar outras mulheres comigo. Florir é uma forma de homenagear todas elas que me trouxeram até aqui. Quanto mais bonita eu fico, mais quero tê-las ao meu lado. Não existe jardim de flor sozinha.

2 de outubro de 2016

A valsa das palavras

Às vezes penso que no final do filme você estará lá 
Pronto pra dar sua crítica firme e convicta 
E ouvir a minha 
Cheia de reticências. 
A febre foi tanta, que te esperei no final das séries, 
Dos livros que li, 
Na saída do teatro. 
Não precisa me amar pra sempre. 
Só precisa estar lá, pra sempre, falando comigo. 
Essa é minha prova de amor. 
Palavras são o caminho mais curto até meu coração.

3 de setembro de 2016

Esse cabelo cacheado meu?
Foi feito para você encher de flor.
Ainda dá tempo!

Volte antes da primavera chegar.

1 de setembro de 2016

Sem vaga

Existe um poema dentro de um ônibus lotado
Às 6 da tarde?
Numa fila de hospital?
No vazio da morte
Ou na dor?
Numa população esfomeada de livros,
habita algum lirismo?
Como escrever quando o corpo só quer descansar de tudo
E os olhos se abaixam
E as mãos enfraquecem
De abraços.
Da onde vem o verso
Quando só sobrou o osso?
Quem pode criar
Sem a argamassa necessária da esperança,
Amor,
Fé,
Em um mundo desesperado por pão,
Paz
E giz?
Leio os classificados do mundo:
não há vagas para a poesia.
Gostaria de ser a florista errante das ruas cinzentas
carregando versos como quem leva a própria vida;
A catadora de ossos no cemitério das palavras;
Gostaria que meu ofício fosse voz
além da minha cabeça,
mas estou cada vez mais só.
O caos engole os mortos,
Os vivos onde estarão?
Eu poderia escrever sobre tudo,
Deveria escrever porque o tempo está acabando.
Hoje só quero dormir:
Não há vagas para mim.

28 de agosto de 2016

Fico frustrada quando não são poesia comigo.
Esqueço que a poeta sou eu.

Das que não foram ditas.

Pequena, você foi umas das melhores coisas da vida. Não ficamos juntos, mas meu amor está. Compreende isso? É muito além da prisão corpórea, tenho tesão no seus versos livres, no seu jeito meigo de existir ao contrário. 
Aquela vez tive medo de te magoar e fugi. Fui covarde. Sei que encheu cada minuto até a dor ficar bonita, porque esse é seu maior dom: tornar suportável a máquina do mundo. 
Por favor, me livra da culpa de não ser seu companheiro da vida, não encher seu cabelo de flor, não te levar ao altar. São muitos nãos para nós dois, porém, um dia, vamos sentar pra conversar e tudo fará sentido, prometo. 
Enquanto isso vai amaciando a existência e sendo insuportavelmente feliz?
Um abraço cheio de silêncios.

25 de agosto de 2016

Sinal Aberto

Sinal fechado. 
Entregadores de papel calculam mentalmente os centésimos de segundo para correr às janelas sem serem atropelados. 
É tarde para fechar o vidro. 
Devo recusar educadamente? 
Devo fingir que estou ao celular? 
Uma moça de boné se aproxima. 
Droga, contato visual. 
Não tem mais jeito, pegue o papel rapidamente e acelere. 
Quanto desperdício de árvores. 
Quem lê essa porcaria? 
Pegue o papel, ela não tem culpa das mazelas do mundo. 
Droga, está sorrindo. 
O lixo do carro transborda. 
Não limpei semana passada? 
Posso pegar e jogar pela janela... 
Não.  
Seria massacrado. 
Pegue o papel e acelere, sem pensar, é o melhor a se fazer. 
Mão estendida: -Bom dia! 
Droga, mais contato visual, ela sorriu e me deu um bom dia mais feliz desse mundo. 
Bom dia sincero não estava nos planos. 
Recalculando a rota mental: 
Acho que gostei. 
Sinal aberto.

22 de agosto de 2016

De flor

No meu mundo
Quando alguém não te ama
Feito casal
Essa pessoa fica
Mesmo assim
Ela te acolhe em algum lugar do peito
É é sua amiga até o fim.
No meu mundo
O amor se transforma
E o ser "rejeitado"
Não se sente preterido de maneira alguma
Ele pode chegar a qualquer momento
Para repousar suas retinas fatigadas
Das pedras no caminho.

Ah, quanta bobagem!
Nesse país é proibido sonhar.
Então sossegue, Carlos...
Pois um sentimento de amor
É flor que nasce no asfalto.
Nem todos estão prontos para
Abraçar esse milagre
Que ainda resiste
Num mundo caduco
De tédio, nojo, ódio,
Mas também, e principalmente, 
de flor.

19 de agosto de 2016

Senhor, livrai-me dessas cantadas baratas
Dessa gente vazia
Me ajuda a gostar tanto de mim
Que não precise descer ao inferno
Só pra ter uma ilusão de companhia...

18 de agosto de 2016

Errante

Hoje, na estrada, havia neblina
Numa quase experiência de limbo.
O limbo é o lugar onde as almas esperam por redenção.
E, surpreendentemente,  me sinto parte dessa atmosfera
Como se estivesse sempre
No meio do caminho
Como se, na noite da criação,
Minha alma fosse mergulhada em obscuridade.

16 de agosto de 2016

Encontrar uma afinidade intelectual entra na categoria 'milagre'? Dentre bilhões de pessoas, minha tragédia é procurar, eternamente,  meu próprio reflexo?

15 de agosto de 2016

Através

Você nunca escreveu um poema sobre mim.
É assim que uma poeta descobre quando o amor
Não está
Onde deveria estar?
Você nunca escreveu um poema sobre mim,
Mas aposto que meus fantasmas são velhos conhecidos seus.
À noite
Na sua vigília, eles vagam.
Eu escrevi muitos poemas sobre você.
Quando sua assombração atravessa as paredes do quarto
Pego a caneta
E faço círculos de palavras
Em volta do meu coração.
Feitiços sobre suportar sua ausência,
Sobre fazer poemas sobre você...
Não é meigo
Nem poético
Nem acredito que seja amor.
É sobre sobreviver, apenas.
Você nunca fez um poema,
Talvez tenha medo
Que leia cada entrelinha sua,
Sem saber que já sei tudo.
Você é livro aberto, meu bem.

Eu também.

6 de agosto de 2016

Coroação

Diz que meu amor não é tolo
E assopra minhas lágrimas até o mar.
Diz que meu amor é sublime
E carrega meu coração ao altar.


4 de agosto de 2016

Acordei com trinta anos
Vendo insetos feito Kafka:
 pelo lado de dentro.
Sou um animal ensopado de desejo.
Se escrevo alucidadamente é porque estou morrendo.
Não preciso de aplicativo
Para caçar poemas.
Ao invés de achá-los,
São eles que me encontram.
Volte rastejando
Admita seu erro
E me encha de flor

2 de agosto de 2016

Submundo

Escrever, para alguns, é adentrar sonhos. Para mim, é âncora que prende à realidade. Tenho medo de soltá-la e jamais encontrar o caminho de casa.

1 de agosto de 2016

Sobre como gostaria de acreditar que não foi em vão.

Ok, façamos um trato:
Você se compromete a me encontrar nos sonhos
Para continuarmos nossas conversas infinitas
E não conto pra ninguém.
Preciso te falar sobre a nova série que assisti
Aquela banda incrível
- como não ouvimos antes! -
Sobre o livro de suspense do King.
Eu sei, é idiota.
Você tem outros planos para seus sonhos.
Só quero sentir, uma vez, que abrir o peito vale a pena, sabe?
Que do amor, por mais errado, torto e não - correspondido ficou alguma coisa.
Não tenho esperanças vãs
Nem desejos impossíveis
Mas, se a amizade for real, sempre existirá um jeito para arrumar as coisas.
Tem dias nos quais me culpo por tudo, pela carência excessiva
Por não compreender os sinais.
Como fui ingênua!
Depois agradeço o passado, com todas suas consequências
Porque eu estava lá e amei de verdade.
E é ele, o amor, que será meu advogado nos dias de escuridão.



28 de julho de 2016

Metamorphosis

Existe uma lagarta na gente. 
Tenho uma aqui dentro. 
Não sei bem ao certo a data precisa 
Em que apareceu. 
E eu 
Que nunca tive gato 
Nem passarinho, 
Que nunca ganhei tartaruga 
Nem cachorro, 
Passei a criar inseto. 
.
Durante a noite, quando tudo silenciava, 
ouvia suas patas sob os móveis 
Da minha cabeça. 
No começo, achei graça: 
Tão miúda a bichinha! 
Ela me fazia companhia, 
Alimentando meus delírios 
Cada vez mais sombrios. 
Mas os dias seguiram 
E a criatura cresceu além do aceitável. 
Não podia admiti-la ameaçando minha solidão. 
Quis assassiná-la. 
.
Estava frio, deitei sua cabeça no colo. 
Ficou quieta. 
Uma das minhas mãos segurava seu corpo, enquanto a outra, firme, 
desenhava movimentos rápidos. 
No começo foi silêncio. 
Um vazio, mais nada. 
Entretanto, misteriosamente,  os ruídos retornaram 
Pouco a pouco 
Feito dedos diabólicos tamborilando meu juízo. 
- Não pode estar viva, está feito - eu gritava. 
.
Nunca mais subi ao sótão da mesma maneira. 
Hoje, quando os monstros crescem demais 
Procuro por mensagens escondidas em lugares improváveis. 
Mesmo que pareça insana, 
E talvez seja, 
Quero muito acreditar nas borboletas. 
Não vou mentir, muitos planos de morte se seguiram, 
sucedidos por tantos outros renascimentos sem explicação, 
Mas tive uma escolha:
Escolhi viver.

26 de julho de 2016

Maturidade

Pronto. É o fim declarado.
Sem gritos de bomba
fogos
Nem som
Só silêncio.
Morrer com educação.
Sem vingança
Sem aparecer na porta da sua casa
Depois de ligar incessantemente
Na madrugada.
Sem rímel na camisa branca.
Essa é a etiqueta
Do fim.
De uma dor canalha que vem sem boas maneiras
Mas havemos de ser fortes
Havemos de ser frias
Havemos de esconder
Nossos ruídos
Para ser bem mais feliz.
Só que havemos eu não posso
Havemos eu não quero
Sou barulhenta bem alto
E vou quebrar o seu nariz.

6 de julho de 2016

(...) sem perder a ternura.

Noite passada encontrei minha menina: doce, vestido rodado e longos cabelos.
- São muitos os lobos, você precisa crescer - expliquei.
Aquele ser encantado não questionou, apenas sorriu e adormeceu nos meu braços de "adulta responsável".
Foi velando seu sono que, finalmente,  compreendi.
Ela não pode ser o que sou, sendo parte tão importante de mim. Se morrer, como reconhecerei a pureza do mundo? Como entenderei os olhos de uma criança? Como encontrarei o amor?
Minha pequena precisa existir pra que eu exista completa.
Sou forte, posso cuidar dela, bem como consolá-la quando a realidade é cinza, mas não consigo sozinha. Preciso da criança porque sou infância também.
E, ademais, posso ser várias: mulher é desdobrável, não é, Adélia?
- Nós somos.

27 de junho de 2016

Sobre a caixa (que não é de Pandora)

Tinha uma penca de monstros debaixo do meu coração.
Todas as noites olhava cada um deles, numa inspeção rotineira.
Mas você desamarrou tudo!
Agora não sei como fazer
Pra por as coisas no lugar de novo.

Eu tô parecendo carente, sensível e derretida.
Não era pra ser assim.
Tinha monstros que me ajudam na defesa do território.
E prometi deixá-los lá
Numa convivência pacífica
Numa convivência calculada
Até você me invadir
Sem deixar nada.



25 de junho de 2016

Minha voz é minha bandeira. 
Às vezes ela gasta, cala, trava, revolta 
E se esconde de volta no corpo. 
Daí eu escrevo.

14 de junho de 2016

- Esses poemas todos, horas de áudio, cartas... Ponho no fundo da gaveta? 
- Sim. E joga a chave fora, não confio na gente.

13 de junho de 2016

- Godo, ela está voltando. 
- Quem? 
- A tristeza. Como posso fazer pra ela não ficar? 
- Essa é fácil: ajude as pessoas. 
- Mas eu já ajudo o bastante, sou professora, já faço o suficiente. 
 - Por isso está voltando... sempre podemos fazer mais. 
- Preciso de exemplos práticos. 
- Certo. Tá vendo aquela senhora no ônibus que sempre puxa assunto? 
- Não brinca, isso não. 
 - Ela foi abandonada pelos filhos e netos. Trabalha como cozinheira e adora ensinar receitas. 
- Vai me alugar a viagem inteira! 
- Esse é o plano. 

- E aí? Foi lá? 
 - Na verdade só ouvi, falou durante 20 minutos. 
- Pois é, durante 20 minutos você não ficou triste. 
- Mas se eu ajudar todo mundo, quem poderá me ajudar? 
- Eu! (que na verdade sou você porque moro na sua cabeça). 
- Você acha que funciona? 
- Sim, te arrumo uma fila pra ajudar em dois minutos. 

- Godo, morro de medo da tristeza voltar. 
- "Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas." 
- Arte da guerra! 
- Por isso que é bom sermos a mesma pessoa. 
-Porque lemos os mesmos livros? 
-Sim! Isso evita explicações desnecessárias.
-Ligar no meio da madrugada vai parecer desespero?
-Você é patética.
- Eu sei.
- Você vai ligar?
- Vou, em pensamento. Porque daí posso criar o diálogo todo.
- Atitude controladora.
- Você deveria me apoiar!
- Alguém tem que botar um pouco de realidade nesse seu país.
-País?
-Das maravilhas.
- Cala boca se não desinvento você.

11 de junho de 2016

Sobre o ofício

Você é professora. Corrige provas, fala dos alunos, planeja a festa da escola. Tem que explicar isso muitas vezes. Muitas vezes não é compreendida por não frequentar baladas, não dormir tarde, guardar recicláveis para usar nas aulas.
Você estuda sobre translação. Procura livros pré -adolescentes que instiguem sua inteligência - se eu gostar eles também vão - cria as vozes dos personagens. Ama papelarias, escreve cartas (recebe cartas - muitas!).
Sabe interpretar crianças: cara de banheiro, dor, medo ou vontade de passear no pátio?
Quer desistir -passa dias planejando o fim. Quer insistir -passa dias planejando recomeços.
Sabe o nome de cada aluno que alfabetizou. Lembra da professora do primeiro ano - que te alfabetizou.
Tem cinco piadas, três mágicas, duas dobraduras e dezenas de brincadeiras na manga.
Quer vida normal, mas sabe que nunca terá. Sua recompensa flutua silenciosamente sob os olhos mortais: "ela escreveu, ele não desistiu, era tão tímida, aquele menino cresceu..." e você estava lá. Tantos lugares no mundo pra estar, mas você desejou estar lá.

29 de maio de 2016

28 de maio de 2016

De:/ Para:


Pode me chamar de louca.
Eu deveria estar triste
Mas apesar de tudo, e contudo,
Nunca me senti tão amada.
E, consequentemente,
Todos a minha volta
Me refletem dessa forma
- não em aplausos -
Mas compactuando em silêncio
Com meu florescimento.
Pode me chamar de doida.
Após um amor sem nome
Apossar-se de mim
Tive uma epifania elucidativa
Deitada de costas sobre a cama,
Travesseiro sob a cabeça
Observando uma lâmpada
Fluorescente numa sala gelada.
Lugar improvável pra conectar os porquês do mundo!
Mas eu vi, eu senti.
Não havia usado entorpecente nenhum
Estava sem sono
Alimentada
Em posse das minhas faculdades mentais.
Eu deveria estar triste.
Até estava triste segundos antes da pequena chama que envolveu meu corpo em amor.
Então caiu uma discreta lágrima do canto do meu olho esquerdo
Ao mesmo tempo em que comecei a rir!
Como? Se deveria estar triste.
E de onde surgiu esse amor todo?
Você pode concluir: maluca!
Só sei que a tristeza foi substituída por um posicionamento confortável perante a vida.
Um posicionamento feliz!
No começo fiquei envergonhada.
Olhei para os lados para certificar-me que não havia testemunhas da minha iluminação.
Tentei, em vão,  agarrar-me aos pensamentos tristes porque são velhos conhecidos meus.
Depois, desconfiei.
Não sou Buda, Jesus, não faço tanta caridade quanto deveria.
Não tenho perfil de iluminação.
Não jejuo
Não rezo
Não nada!
Será que escolheram a menina errada?
Escrevo tentando compreender
Tudo isso que aconteceu comigo
Deitada de costas sobre a cama,
Travesseiro sob a cabeça
Observando uma lâmpada
Fluorescente numa sala gelada.
Enquanto isso permaneço...
Amada.
Dentro do amor.
Feito um útero
Uma colcha
Uma concha.
Erro ou não, permanecerei calada.
Amor não é algo pra se devolver.