20 de abril de 2020

Matriosca

Estar isolada dentro do isolamento 
É ficar numa caixa dentro de outra caixa.
Hoje, espiei pra fora: olá, mundo exterior. 
Esse dom para reinventar está aqui. 
Tomo posse de mim mais uma vez.

18 de abril de 2020

Joia da semana

Hoje é sábado 
Então me permito alguma alegria. 
Abro as janelas 
Canto desafinado, 
Porque é sábado, afinal! 
Não tem vírus, medo, tristeza que apaguem essa luz: 
Confiar é extremamente luminoso. 
Tenho tudo e mais um pouco para dividir.
Hoje é sábado, o amanhã se basta. 
Brindemos esse presente.

4 de abril de 2020

Boletim da quarentena10: encontrei a trilha de Amélie Poulain. Nota mental: tocá-la ao subirem os créditos finais.
Boletim da quarentena9: não sei escrever textos felizes mais. Por favor, imagine um emoji engraçadinho bem aqui.
Boletim da quarentena8: qual o nome do filme? Workaholic à beira de um ataque de nervos.
Boletim da quarentena7: relendo livros antigos desconfio de duas coisas: ou eles eram muito diferentes ou eu li tudo errado.
Boletim da quarentena6: açúcar e mais açúcar. Minha ansiedade nunca pede alface.
Boletim da quarentena5: ouvir músicas antigas é uma faca de dois gumes: pode salvar ou afundar mais ainda. Crie sua playlist com precisão cirúrgica em momentos de crise.
Boletim da quarentena4: eles dizem que quando a gente morre a vida passa na frente dos olhos feito um filme. A iminência da tragédia é um vale a pena ver de novo todo dia, com close nas partes erradas.
Boletim da quarentena3: gostaria de salvar alguém com meus textos, isso é possível? 
Ou é só uma maneira desesperada de não me sentir tão sozinha? 

Boletim da quarentena2: tem dias mais fáceis. 
Tem dias mais difíceis. 
No espaço entre eles, eu danço.

1 de abril de 2020

Vocês são importantes.

Boletim da quarentena: tem alguém aí? 
Estou descobrindo cantos da casa inexplorados,
Cantos de mim, quase intactos. 
Tem alguém aqui? 
Vejo números e mais números na tv. 
Quem eram essas pessoas? 
Elas cantavam no chuveiro, faziam palavras cruzadas, sonhavam em conhecer outro país? 
Não quero ser estatística também, 
Sou professora. 
Tinha aulas todos os dias sobre ser gente. 
Humana. 
Não número. 
As crianças me ensinaram, pacientemente, sobre a vida. 
Tenho medo de esquecer, 
Ou não ter aprendido o suficiente. 
Elas ensinaram, sobretudo, não coisificar pessoas. 
Por isso, guardo aqui a memória dos que se foram
Vocês são importantes.