29 de novembro de 2016

Vó Preta

Essa noite te vi subir por um tapete florido.  Perdoe o espanto, não é todo dia que uma matriarca chega nas terras celestiais. Que surpresa boba a minha
por imaginar que você subiria de outro jeito, a não ser por um jardim.
Sabe, um dia li que já estive em seu útero, através da minha mãe:
Fica um pouco do seu queixo no queixo da sua neta...
Então, aqui estou, braços estendidos carregando sua bandeira.
Essa carta é pra dizer obrigada, vó, eu vou herdar você pra sempre.

28 de novembro de 2016

Existe uma casa escondida no meio da vida Portando o estandarte da resistência. Essa família carrega a profecia, O baque, Os mistérios. Carrega quem chega também, Para uma versão melhor de nós mesmos. Porque existe essa casa no meio da vida, Então nosso caminho há de ser radiante. Se há respeito nos propósitos, Orùnmilá: Faz de mim navegante.

27 de novembro de 2016

Olho-d'água

Vê?  
Meu corpo escorregando por entre seus dedos, 
É minha maneira de abraçar você como um rio. 
Sente? 
Meus pensamentos indo sondar seus desejos? 
Todas as vezes que tocar a liquidez do mundo 
Restará um pouco de mim aí dentro 
Porque nossas águas se misturaram um dia. 
Lembra? 
Naquele beijo.

23 de novembro de 2016

A primavera das lagartas

Um dia minha aluna chegou queimada de sol, descascando no rosto. Ela ficou tímida e não queria entrar, daí fiquei pensando em quantas vezes me privei por não achar minha aparência boa.
Quando uma pessoa próxima adoeceu, percebi que dias ensolarados voam como o tempo anda pra frente, e resolvi viver. Nos dias nublados, se estou insegura, um sorriso abre-alas ajuda embelezar as coisas.
Quanto a pequenina do começo da história, acabou ficando. Eu lhe disse que "lagarta precisa descascar pra virar borboleta" e ela entendeu. Crianças entendem sobre urgência rápidamente, bem mais rápido que os adultos.

20 de novembro de 2016

Êxtase

Todos desejos que tive,
Sonhos obscenos,
Todas as malícias,
Meu sangue quente por dentro
Criando universos inteiros
Com a ponta dos dedos.
Todos meus beijos, saliva, suor,
Meu feminino engolindo seu ser e lhe devolvendo mais adiante
Na eternidade.
Cada roçar de peles
Na combustão espontânea do meu coração no seu:
Foi verso.
Porque sou movida a palavra, meu amor.
Por isso,
Encosta sua literatura na minha
Antes das suas mãos tocarem meu corpo.
As letras serão cama dos meus quereres mais profundos
Pois são delas minha carne poética e animalesca.
Toca meus signos, pacientemente,
Que de beleza enfeitarei seu corpo.
E nosso princípio será Verbo.

14 de novembro de 2016

Sobre possuir as significâncias

Meu amor são fitas coloridas
amarradas nas barbas brancas das horas.
Meu amor são.
Apesar de tantas vezes louco
e outras tantas só...
Ele insiste em enfeitar plural por toda gente
porque salpicar universos inteiros na cor
é missão amorosa.
Não sei das coisas,
mas quando vislumbro esse sentimento,
possuo as significâncias do mundo.