20 de fevereiro de 2008

Nos olhos dos pequenos vejo espaço.
Sinto em cada sorriso ou lágrima
meus gestos refletidos
Cada palma sou eu vibrando neles
- Novas descobertas para reencontrar a vida.
Os erros ficam grandes
O peso da palavra estremece.
Mas eles vão entender
um dia vão
que erro demais tentando acertar.
Ser professora mudou meu caráter
abriu meus braços.

Esperança foi meu primeiro salário.

17 de fevereiro de 2008

O moço, a moça e o bebê.

Sentamos em um restaurante para conversar numa sexta-feira. Um moço, uma moça e um bebê passavam por entres as mesas. O pequenino estava meio sonolento ainda, parecia ter acabado de despertar. Seus pais tinham o rosto tristonho, poderia até arriscar infeliz. Infeliz é uma palavra pesada, mas não encontro outra.
Eles chegaram até nossa mesa. O desconforto dos presentes foi visível. Eu sabia que iam pedir dinheiro, ajuda, alguma moeda, algo assim, porque já havia visto essa cena repetidas vezes, ora com meninos vendendo balas, ora com pedidos de socorro nas campainhas. Eu sabia; porém desejei não saber.
Desejei que a minha casca protetora e antecipada das coisas não existisse naquele momento. Quis me assustar com o pedido do moço, pegar o neném nos braços, perguntar seu nome. Abraçar aquela mãe, que é tão mãe quanto a minha, e perguntar por quais estradas caminharam até ali. Chamar a atenção das outras mesas, assustá-las para o que estava acontecendo, afinal, um pai de família pedir esmolas não é comum. Não pode ser. É estranhíssimo, é completamente absurdo! Aquele brasileirinho deveria estar em seu berço como eu estive quando criança; mas ele não estava.
Fechei os olhos por um segundo imenso. Uma náusea. Quando abri já estavam distantes: a mulher, o moço e o bebê.
Tive impressão que naquele dia a criança envelheceu dez anos, porque, misteriosamente, o choro não era mais infantil, era um choro do avesso.

10 de fevereiro de 2008

Existe um poema do Drummond assim:
“(...)Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave? (...)”

Troque ‘palavras’, por ‘pessoas’...
E então pergunte a alguém realmente importante: trouxeste a chave?
Se a resposta for – não!
Ofereça atalhos e passagens secretas,
suas mãos abertas... sem medo.
O maior desespero é morrer sem nada ter oferecido,
porque o que damos é realmente nosso.
A porquinha de ouro sepultada no jardim,
ficará para sempre
sepultada no jardim.

5 de fevereiro de 2008

Eu podo pessoas como podo jardins.