2 de dezembro de 2015

Nossas línguas se cruzaram duas semanas sem tocar.
Estive de pés juntos, na beira do seu lago, preste a pular.
Você  me ofereceu seu corpo numa bandeja para desfrutar.
Eu disse "sem alma não quero mergulhar".
As algas cresceram sob a água até turvar.
Você disse: que pena, meu rio cabe em você, por que não  vai ficar?
 - Porque sou MAR.

8 de novembro de 2015

Aeternum

Quando danço
consigo me libertar do corpo
e me vejo fora,
rodopiando no espaço.
Quando danço e canto,
sustento o pássaro nas mãos por um segundo
assoprando no meu peito alguns segredos não revelados.
Para que possa seguir sem morrer.

Dançar o corpo.
Cantar o passarinho
Não morrer.


Dançarcantarviver: é meu mantra da eternidade.

5 de novembro de 2015

Banquete

A roda transmutará a cura para o feminino 
dentro do caldeirão. 
Observo pedaços meus e das minhas irmãs. 
La Loba há de reuni-los 
como há milhões de eras alinhava pedaços do universo 
num eterno partir-se/agrupar-se sagrado. 

A lua intui a caravana pelos quatro ventos. 
Muitos tentarão ceifa-la, desesperadamente. 
Mas como denegar o oceano? 
São dezenas, milhares e andam nuas.
Peles selvagens, patas, pés sobre o chão
Nossas mãos 
unidas à grande Mãe repousadas sobre muitas outras mãos. 
Até que todas sentem-se à mesa, pois é chegada a hora 

Do brinde.

11 de agosto de 2015

Das cartas II

Nunca! Como pôde pensar isso?  Te tenho em grande afeto. Mesmo depois daquele dia que você sumiu, lembra?  Te encontrei naquele esconderijo do sofá,  com medo de levar bronca. Você,  diferente do porquinho da Índia,  sempre preferiu grandes almofadas. 
Nunca vou brigar contigo por querer estar sozinho,  por mais que o monstro da carência roa meus dedinhos do pé.  Eu mastigo as unhas e como minhas mãos,  mas sei esperar. Enquanto está longe, fiz mil planos. Cortar o cabelo,  uma viagem talvez. Tem também umas cartas, logo saberá.  Nelas usarei metáforas de morte, fique frio, nunca foi meu desejo.  Se fosse pra querer alguma coisa,  um chute no seu saco já estava de bom tamanho. 

Das cartas I

Desde então todas as palavras estão aqui, dentro de mim, mas um dia farei um cordão. Elas sairão feito truque de mágica da minha boca sobre a platéia, atônita. Sou boa nisso: guardadora de palavras que queria dizer, mas pensei depois, enquanto voltava pra casa. Tudo soa estúpido, nas horas erradas. Esse texto, por exemplo, era muito melhor na minha cabeça. Talvez delete. O fato é que ando a procura de alguém macio, onde possa deitar palavras e achei que você era assim, bem confortável pra toda essa timidez. Pessoas ásperas já vi demais, tenho medo de me tornar assim, se é que ainda não me tornei. 
Tô com medo. Você pode me martelar (com martelinho de carne) se um dia eu endurecer e perder a ternura?

1 de agosto de 2015

Etérea

Não dá mais pra brincar com sentimentos
meus ossos estão velhos
Se não for pra ancorar
Que a maré leve, bem longe
porque meus ossos estão leves
Demais
Quase flutuam de livres
Amor não foi feito pra doer.

15 de maio de 2015

Você reafirma no amor o que faz quando ensina uma mágica e vê a carinha das crianças de satisfação após horas tentando. Porque não ensino truques, letras, números, ensino a insistir, a não ter medo, sobre paciência. Existe um elo entre nossas mãos que se ligam por fios invisíveis; eu abrindo caminhos na enxada pra eles plantarem as borboletas.

14 de março de 2015

das canções oníricas:

aí vc sonha com uma música e acorda desesperada procurando o gravador... mas te foi permitido guardar apenas o refrão.