Hoje, na estrada, havia neblina
Numa quase experiência de limbo.
O limbo é o lugar onde as almas esperam por redenção.
E, surpreendentemente, me sinto parte dessa atmosfera
Como se estivesse sempre
No meio do caminho
Como se, na noite da criação,
Minha alma fosse mergulhada em obscuridade.
18 de agosto de 2016
16 de agosto de 2016
15 de agosto de 2016
Através
Você nunca escreveu um poema sobre mim.
É assim que uma poeta descobre quando o amor
Não está
Onde deveria estar?
Você nunca escreveu um poema sobre mim,
Mas aposto que meus fantasmas são velhos conhecidos seus.
À noite
Na sua vigília, eles vagam.
Eu escrevi muitos poemas sobre você.
Quando sua assombração atravessa as paredes do quarto
Pego a caneta
E faço círculos de palavras
Em volta do meu coração.
Feitiços sobre suportar sua ausência,
Sobre fazer poemas sobre você...
Não é meigo
Nem poético
Nem acredito que seja amor.
É sobre sobreviver, apenas.
Você nunca fez um poema,
Talvez tenha medo
Que leia cada entrelinha sua,
Sem saber que já sei tudo.
Você é livro aberto, meu bem.
Eu também.
6 de agosto de 2016
Coroação
Diz que meu amor não é tolo
E assopra minhas lágrimas até o mar.
Diz que meu amor é sublime
E carrega meu coração ao altar.
E assopra minhas lágrimas até o mar.
Diz que meu amor é sublime
E carrega meu coração ao altar.
4 de agosto de 2016
2 de agosto de 2016
Submundo
Escrever, para alguns, é adentrar sonhos. Para mim, é âncora que prende à realidade. Tenho medo de soltá-la e jamais encontrar o caminho de casa.
1 de agosto de 2016
Sobre como gostaria de acreditar que não foi em vão.
Ok, façamos um trato:
Você se compromete a me encontrar nos sonhos
Para continuarmos nossas conversas infinitas
E não conto pra ninguém.
Preciso te falar sobre a nova série que assisti
Aquela banda incrível
- como não ouvimos antes! -
Sobre o livro de suspense do King.
Eu sei, é idiota.
Você tem outros planos para seus sonhos.
Só quero sentir, uma vez, que abrir o peito vale a pena, sabe?
Que do amor, por mais errado, torto e não - correspondido ficou alguma coisa.
Não tenho esperanças vãs
Nem desejos impossíveis
Mas, se a amizade for real, sempre existirá um jeito para arrumar as coisas.
Tem dias nos quais me culpo por tudo, pela carência excessiva
Por não compreender os sinais.
Como fui ingênua!
Depois agradeço o passado, com todas suas consequências
Porque eu estava lá e amei de verdade.
E é ele, o amor, que será meu advogado nos dias de escuridão.
Você se compromete a me encontrar nos sonhos
Para continuarmos nossas conversas infinitas
E não conto pra ninguém.
Preciso te falar sobre a nova série que assisti
Aquela banda incrível
- como não ouvimos antes! -
Sobre o livro de suspense do King.
Eu sei, é idiota.
Você tem outros planos para seus sonhos.
Só quero sentir, uma vez, que abrir o peito vale a pena, sabe?
Que do amor, por mais errado, torto e não - correspondido ficou alguma coisa.
Não tenho esperanças vãs
Nem desejos impossíveis
Mas, se a amizade for real, sempre existirá um jeito para arrumar as coisas.
Tem dias nos quais me culpo por tudo, pela carência excessiva
Por não compreender os sinais.
Como fui ingênua!
Depois agradeço o passado, com todas suas consequências
Porque eu estava lá e amei de verdade.
E é ele, o amor, que será meu advogado nos dias de escuridão.
29 de julho de 2016
28 de julho de 2016
Metamorphosis
Existe uma lagarta na gente.
Tenho uma aqui dentro.
Não sei bem ao certo a data precisa
Em que apareceu.
E eu
Que nunca tive gato
Nem passarinho,
Que nunca ganhei tartaruga
Nem cachorro,
Passei a criar inseto.
.
Durante a noite, quando tudo silenciava,
ouvia suas patas sob os móveis
Da minha cabeça.
No começo, achei graça:
Tão miúda a bichinha!
Ela me fazia companhia,
Alimentando meus delírios
Cada vez mais sombrios.
Mas os dias seguiram
E a criatura cresceu além do aceitável.
Não podia admiti-la ameaçando minha solidão.
Quis assassiná-la.
.
Estava frio, deitei sua cabeça no colo.
Ficou quieta.
Uma das minhas mãos segurava seu corpo, enquanto a outra, firme,
desenhava movimentos rápidos.
No começo foi silêncio.
Um vazio, mais nada.
Entretanto, misteriosamente, os ruídos retornaram
Pouco a pouco
Feito dedos diabólicos tamborilando meu juízo.
- Não pode estar viva, está feito - eu gritava.
.
Nunca mais subi ao sótão da mesma maneira.
Hoje, quando os monstros crescem demais
Procuro por mensagens escondidas em lugares improváveis.
Mesmo que pareça insana,
E talvez seja,
Quero muito acreditar nas borboletas.
Não vou mentir, muitos planos de morte se seguiram,
sucedidos por tantos outros renascimentos sem explicação,
Mas tive uma escolha:
Escolhi viver.
Tenho uma aqui dentro.
Não sei bem ao certo a data precisa
Em que apareceu.
E eu
Que nunca tive gato
Nem passarinho,
Que nunca ganhei tartaruga
Nem cachorro,
Passei a criar inseto.
.
Durante a noite, quando tudo silenciava,
ouvia suas patas sob os móveis
Da minha cabeça.
No começo, achei graça:
Tão miúda a bichinha!
Ela me fazia companhia,
Alimentando meus delírios
Cada vez mais sombrios.
Mas os dias seguiram
E a criatura cresceu além do aceitável.
Não podia admiti-la ameaçando minha solidão.
Quis assassiná-la.
.
Estava frio, deitei sua cabeça no colo.
Ficou quieta.
Uma das minhas mãos segurava seu corpo, enquanto a outra, firme,
desenhava movimentos rápidos.
No começo foi silêncio.
Um vazio, mais nada.
Entretanto, misteriosamente, os ruídos retornaram
Pouco a pouco
Feito dedos diabólicos tamborilando meu juízo.
- Não pode estar viva, está feito - eu gritava.
.
Nunca mais subi ao sótão da mesma maneira.
Hoje, quando os monstros crescem demais
Procuro por mensagens escondidas em lugares improváveis.
Mesmo que pareça insana,
E talvez seja,
Quero muito acreditar nas borboletas.
Não vou mentir, muitos planos de morte se seguiram,
sucedidos por tantos outros renascimentos sem explicação,
Mas tive uma escolha:
Escolhi viver.
26 de julho de 2016
Maturidade
Pronto. É o fim declarado.
Sem gritos de bomba
fogos
Nem som
Só silêncio.
Morrer com educação.
Sem vingança
Sem aparecer na porta da sua casa
Depois de ligar incessantemente
Na madrugada.
Sem rímel na camisa branca.
Essa é a etiqueta
Do fim.
De uma dor canalha que vem sem boas maneiras
Mas havemos de ser fortes
Havemos de ser frias
Havemos de esconder
Nossos ruídos
Para ser bem mais feliz.
Só que havemos eu não posso
Havemos eu não quero
Sou barulhenta bem alto
E vou quebrar o seu nariz.
Sem gritos de bomba
fogos
Nem som
Só silêncio.
Morrer com educação.
Sem vingança
Sem aparecer na porta da sua casa
Depois de ligar incessantemente
Na madrugada.
Sem rímel na camisa branca.
Essa é a etiqueta
Do fim.
De uma dor canalha que vem sem boas maneiras
Mas havemos de ser fortes
Havemos de ser frias
Havemos de esconder
Nossos ruídos
Para ser bem mais feliz.
Só que havemos eu não posso
Havemos eu não quero
Sou barulhenta bem alto
E vou quebrar o seu nariz.
6 de julho de 2016
(...) sem perder a ternura.
Noite passada encontrei minha menina: doce, vestido rodado e longos cabelos.
- São muitos os lobos, você precisa crescer - expliquei.
Aquele ser encantado não questionou, apenas sorriu e adormeceu nos meu braços de "adulta responsável".
Foi velando seu sono que, finalmente, compreendi.
Ela não pode ser o que sou, sendo parte tão importante de mim. Se morrer, como reconhecerei a pureza do mundo? Como entenderei os olhos de uma criança? Como encontrarei o amor?
Minha pequena precisa existir pra que eu exista completa.
Sou forte, posso cuidar dela, bem como consolá-la quando a realidade é cinza, mas não consigo sozinha. Preciso da criança porque sou infância também.
E, ademais, posso ser várias: mulher é desdobrável, não é, Adélia?
- Nós somos.
- São muitos os lobos, você precisa crescer - expliquei.
Aquele ser encantado não questionou, apenas sorriu e adormeceu nos meu braços de "adulta responsável".
Foi velando seu sono que, finalmente, compreendi.
Ela não pode ser o que sou, sendo parte tão importante de mim. Se morrer, como reconhecerei a pureza do mundo? Como entenderei os olhos de uma criança? Como encontrarei o amor?
Minha pequena precisa existir pra que eu exista completa.
Sou forte, posso cuidar dela, bem como consolá-la quando a realidade é cinza, mas não consigo sozinha. Preciso da criança porque sou infância também.
E, ademais, posso ser várias: mulher é desdobrável, não é, Adélia?
- Nós somos.
27 de junho de 2016
Sobre a caixa (que não é de Pandora)
Tinha uma penca de monstros debaixo do meu coração.
Todas as noites olhava cada um deles, numa inspeção rotineira.
Mas você desamarrou tudo!
Agora não sei como fazer
Pra por as coisas no lugar de novo.
Eu tô parecendo carente, sensível e derretida.
Não era pra ser assim.
Tinha monstros que me ajudam na defesa do território.
E prometi deixá-los lá
Numa convivência pacífica
Numa convivência calculada
Até você me invadir
Sem deixar nada.
25 de junho de 2016
14 de junho de 2016
13 de junho de 2016
- Godo, ela está voltando.
- Quem?
- A tristeza. Como posso fazer pra ela não ficar?
- Essa é fácil: ajude as pessoas.
- Mas eu já ajudo o bastante, sou professora, já faço o suficiente.
- Por isso está voltando... sempre podemos fazer mais.
- Preciso de exemplos práticos.
- Certo. Tá vendo aquela senhora no ônibus que sempre puxa assunto?
- Não brinca, isso não.
- Ela foi abandonada pelos filhos e netos. Trabalha como cozinheira e adora ensinar receitas.
- Vai me alugar a viagem inteira!
- Esse é o plano.
- E aí? Foi lá?
- Na verdade só ouvi, falou durante 20 minutos.
- Pois é, durante 20 minutos você não ficou triste.
- Mas se eu ajudar todo mundo, quem poderá me ajudar?
- Eu! (que na verdade sou você porque moro na sua cabeça).
- Você acha que funciona?
- Sim, te arrumo uma fila pra ajudar em dois minutos.
- Godo, morro de medo da tristeza voltar.
- "Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas."
- Arte da guerra!
- Por isso que é bom sermos a mesma pessoa.
-Porque lemos os mesmos livros?
-Sim! Isso evita explicações desnecessárias.
- Quem?
- A tristeza. Como posso fazer pra ela não ficar?
- Essa é fácil: ajude as pessoas.
- Mas eu já ajudo o bastante, sou professora, já faço o suficiente.
- Por isso está voltando... sempre podemos fazer mais.
- Preciso de exemplos práticos.
- Certo. Tá vendo aquela senhora no ônibus que sempre puxa assunto?
- Não brinca, isso não.
- Ela foi abandonada pelos filhos e netos. Trabalha como cozinheira e adora ensinar receitas.
- Vai me alugar a viagem inteira!
- Esse é o plano.
- E aí? Foi lá?
- Na verdade só ouvi, falou durante 20 minutos.
- Pois é, durante 20 minutos você não ficou triste.
- Mas se eu ajudar todo mundo, quem poderá me ajudar?
- Eu! (que na verdade sou você porque moro na sua cabeça).
- Você acha que funciona?
- Sim, te arrumo uma fila pra ajudar em dois minutos.
- Godo, morro de medo da tristeza voltar.
- "Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas."
- Arte da guerra!
- Por isso que é bom sermos a mesma pessoa.
-Porque lemos os mesmos livros?
-Sim! Isso evita explicações desnecessárias.
-Ligar no meio da madrugada vai parecer desespero?
-Você é patética.
- Eu sei.
- Você vai ligar?
- Vou, em pensamento. Porque daí posso criar o diálogo todo.
- Atitude controladora.
- Você deveria me apoiar!
- Alguém tem que botar um pouco de realidade nesse seu país.
-País?
-Das maravilhas.
- Cala boca se não desinvento você.
-Você é patética.
- Eu sei.
- Você vai ligar?
- Vou, em pensamento. Porque daí posso criar o diálogo todo.
- Atitude controladora.
- Você deveria me apoiar!
- Alguém tem que botar um pouco de realidade nesse seu país.
-País?
-Das maravilhas.
- Cala boca se não desinvento você.
11 de junho de 2016
Sobre o ofício
Você é professora. Corrige provas, fala dos alunos, planeja a festa da escola. Tem que explicar isso muitas vezes. Muitas vezes não é compreendida por não frequentar baladas, não dormir tarde, guardar recicláveis para usar nas aulas.
Você estuda sobre translação. Procura livros pré -adolescentes que instiguem sua inteligência - se eu gostar eles também vão - cria as vozes dos personagens. Ama papelarias, escreve cartas (recebe cartas - muitas!).
Sabe interpretar crianças: cara de banheiro, dor, medo ou vontade de passear no pátio?
Quer desistir -passa dias planejando o fim. Quer insistir -passa dias planejando recomeços.
Sabe o nome de cada aluno que alfabetizou. Lembra da professora do primeiro ano - que te alfabetizou.
Tem cinco piadas, três mágicas, duas dobraduras e dezenas de brincadeiras na manga.
Quer vida normal, mas sabe que nunca terá. Sua recompensa flutua silenciosamente sob os olhos mortais: "ela escreveu, ele não desistiu, era tão tímida, aquele menino cresceu..." e você estava lá. Tantos lugares no mundo pra estar, mas você desejou estar lá.
Você estuda sobre translação. Procura livros pré -adolescentes que instiguem sua inteligência - se eu gostar eles também vão - cria as vozes dos personagens. Ama papelarias, escreve cartas (recebe cartas - muitas!).
Sabe interpretar crianças: cara de banheiro, dor, medo ou vontade de passear no pátio?
Quer desistir -passa dias planejando o fim. Quer insistir -passa dias planejando recomeços.
Sabe o nome de cada aluno que alfabetizou. Lembra da professora do primeiro ano - que te alfabetizou.
Tem cinco piadas, três mágicas, duas dobraduras e dezenas de brincadeiras na manga.
Quer vida normal, mas sabe que nunca terá. Sua recompensa flutua silenciosamente sob os olhos mortais: "ela escreveu, ele não desistiu, era tão tímida, aquele menino cresceu..." e você estava lá. Tantos lugares no mundo pra estar, mas você desejou estar lá.
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