2 de dezembro de 2018

Crítica sobre método avaliativo ou tratado sobre liberdade.

Ambiente gelado.
Janelas pintadas de maneira que não se veja o exterior.
Carteiras enfileiradas.
Paredes lisas, cores sóbrias.
Pessoas com rostos comuns.
Uma garota pede: Alguém tem caneta preta?
Silêncio.
Ninguém preparado para ruído.
A fiscal pega meu dedo e passa numa tinta escura, fico observando minha impressão digital no papel. 
Meu dedo e o dela, um instante apenas,
O único contato humano até o momento.
Cinquenta questões objetivas, múltipla escolha.
Escuto distante um pássaro do lado de fora. 
Esqueço da pergunta que acabara de ler.
Silêncio.
Nem tudo está perdido, tem uma crônica do Moacyr Scliar e uma tirinha genial do André Dahmer. 
Humor ácido em ambas.
Há quanto tempo estou aqui?
Envelheço.
Passo por matemática, com alguns ferimentos,
Derrapo nos pensadores, tantas teorias sobre a educação que nunca usei, eu penso.
Ainda tem a redação.
Rascunho muitas coisas, apago.
Tese, antítese, será que meu texto ficou esquerdopata demais?
Apago.
Melhor aparentar neutralidade, concluo.
Não consigo.
Foda-se.
Passo a limpo.
Foram três longas horas.
Será que está claro ainda?
O corpo dói.
Tem as questões de chutar. Ô saco, deveria ter chutado antes.
Vontade de urinar. 
Tem muita gente na fila.
Já está quase na hora, o som exterior distrai minha cabeça.
Entrego a prova com urgência, preciso sair. Rápido.
Você prestou para quê?
Para trabalhar com crianças, acredita?
Sigo dois, três, dez quarteirões sem rumo. 
Finalmente livre.

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