17 de fevereiro de 2008

O moço, a moça e o bebê.

Sentamos em um restaurante para conversar numa sexta-feira. Um moço, uma moça e um bebê passavam por entres as mesas. O pequenino estava meio sonolento ainda, parecia ter acabado de despertar. Seus pais tinham o rosto tristonho, poderia até arriscar infeliz. Infeliz é uma palavra pesada, mas não encontro outra.
Eles chegaram até nossa mesa. O desconforto dos presentes foi visível. Eu sabia que iam pedir dinheiro, ajuda, alguma moeda, algo assim, porque já havia visto essa cena repetidas vezes, ora com meninos vendendo balas, ora com pedidos de socorro nas campainhas. Eu sabia; porém desejei não saber.
Desejei que a minha casca protetora e antecipada das coisas não existisse naquele momento. Quis me assustar com o pedido do moço, pegar o neném nos braços, perguntar seu nome. Abraçar aquela mãe, que é tão mãe quanto a minha, e perguntar por quais estradas caminharam até ali. Chamar a atenção das outras mesas, assustá-las para o que estava acontecendo, afinal, um pai de família pedir esmolas não é comum. Não pode ser. É estranhíssimo, é completamente absurdo! Aquele brasileirinho deveria estar em seu berço como eu estive quando criança; mas ele não estava.
Fechei os olhos por um segundo imenso. Uma náusea. Quando abri já estavam distantes: a mulher, o moço e o bebê.
Tive impressão que naquele dia a criança envelheceu dez anos, porque, misteriosamente, o choro não era mais infantil, era um choro do avesso.

Um comentário:

...BIOGRAFIA DE UMA ESTÓRIA DE AMOR... disse...

Causa impacto as questões sociais, cruas, nuas e nada silenciosas...