18 de novembro de 2018

Afeto

Banho seguido do sutiã mais bonito: 
Aquele preto rendado com calcinha combinando. 
Babados nas mangas, 
Uma bermuda jeans escuro, cinto marrom. 
Duas gotas de lavanda atrás das orelhas seguidas do suspiro profundo – para ocorrer simbiose entre perfume e espírito. 
Na bolsa: tic -tac, celular, cartões, um bilhete amassado, caderno de anotações (caso um poema surja), canetas sem tampa, grampos. 
Cabelo à la Botticelli desce encaracolado até o ombro como serpentes hipnotizadas pelo vento. Ondas douradas. Nada de colares ou pulseiras, apenas um sorriso marfim correndo entre os lábios rosados, carnudos, molduras perfeitas para Natureza dentro e fora dela. Dona do tempo. Faz chover nas roseiras. Sua timidez é o mais puro encantamento herdado das fadas. Seria a voz mais calmante dessa Terra, ou aqueles olhos úmidos, pequeninos no tamanho e grandiosos na luz? 
Começo a considerar a possibilidade de estar diante de um ser translúcido, inquebrantável e fértil, personificação sagrada da vida. Logo eu, anjo da guarda experiente, anos prestados à obra maior, serei julgado por quebra de contrato, pois prometi acompanhá-la nos percalços da existência e me encontro irremediavelmente enamorado. 
Ó Deus, perdoai minha falta. Ou meus excessos. Seria impossível não me derreter em amores infindos, pois convivendo tão perto pude ver o esplendor desse ser. Entrego meus títulos, abandono tudo, mas não me prive dessa companhia até o último suspiro. Até nos juntarmos novamente para que eu possa tirá-la para dançar.

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