Existe uma lagarta na gente.
Tenho uma aqui dentro.
Não sei bem ao certo a data precisa
Em que apareceu.
E eu
Que nunca tive gato
Nem passarinho,
Que nunca ganhei tartaruga
Nem cachorro,
Passei a criar inseto.
.
Durante a noite, quando tudo silenciava,
ouvia suas patas sob os móveis
Da minha cabeça.
No começo, achei graça:
Tão miúda a bichinha!
Ela me fazia companhia,
Alimentando meus delírios
Cada vez mais sombrios.
Mas os dias seguiram
E a criatura cresceu além do aceitável.
Não podia admiti-la ameaçando minha solidão.
Quis assassiná-la.
.
Estava frio, deitei sua cabeça no colo.
Ficou quieta.
Uma das minhas mãos segurava seu corpo, enquanto a outra, firme,
desenhava movimentos rápidos.
No começo foi silêncio.
Um vazio, mais nada.
Entretanto, misteriosamente, os ruídos retornaram
Pouco a pouco
Feito dedos diabólicos tamborilando meu juízo.
- Não pode estar viva, está feito - eu gritava.
.
Nunca mais subi ao sótão da mesma maneira.
Hoje, quando os monstros crescem demais
Procuro por mensagens escondidas em lugares improváveis.
Mesmo que pareça insana,
E talvez seja,
Quero muito acreditar nas borboletas.
Não vou mentir, muitos planos de morte se seguiram,
sucedidos por tantos outros renascimentos sem explicação,
Mas tive uma escolha:
Escolhi viver.
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