31 de março de 2010

Das lembranças

Sinto tantas saudades de nós
que a música no rádio estraga meu dia inteiro.

Sumi com todos os rastros,
mas eles abrem buracos no meio da terra
e riem de mim.

Sinto saudade de mim com você
quando eu era outra pessoa.
E todas as cartas de amor não eram ridículas.
E declarações em praça pública não pareciam falta de sanidade mental.

Acreditava na paz,
reciclava o lixo, lia sobre socialismo.
Tinha uma vaga no céu.


Acabou.

Foi pacto meu,
desses que a gente faz e não quebra,
mas sempre fica alguma saudade.
Memórias são instrumentos de tortura
quando rejeitadas.
Por isso eu aceito.
Aceito todas; e sigo em frente.

28 de março de 2010

Das imagens

O catador recolhe o papelão com cuidado.
Dobra, ajeita, se deita.
Os passantes não querem mais papelão.
Não enxergam catador.
Eles não querem catador.
Nem enxergam papelão.

Derrama-se em silêncio uma cumplicidade mútua.

Foi nos cantos inesperados, das marquises, dos becos sem saída,
que aprendi sobre segunda chance.

27 de março de 2010

Constatação

Tem sempre uma bagunça
fora
dentro
fora
para organizar.
Tem sempre uma mágoa
dentro
fora
dentro
para exorcizar.

13 de março de 2010

Venho brindar, amigos, minha libertação.
Era um passado que não passava, uma mania de reinventar em moldes arcaicos.
Ergo meus impérios diante de mim sem que para isso utilize tijolos arrogantes. Reino sob pulsos livres e ares carinhosos.
É sono inteiro, completo e merecido, com chuva no quintal:
- Brindemos, pois.