26 de janeiro de 2008

Andava o mais rápido que podia, sentindo o coração na boca, rolando sobre a língua, escorregando nas gotas de suor em suas mãos. Estava nervosa. Um nervoso de espera, um nervoso da sua idade avançada, pois nesse um ano envelhecera trinta e sete... Ajeitou a presilha no cabelo. Sua respiração amendoada. Arfar gélido.
Todos na rua passavam rápido, corriam, voavam. Ela não via.
Sentia-se só. Como se mais ninguém pudesse compreender a glória daqueles segundos que a separava dos braços incógnitos dele.
Um leve sorriso brincava no canto da boca: ar de quem sabe algum segredo
ou tem por quem estremecer – tinha por quem estremecer -
Seu corpo feminino arredondava cada esquina, cada curva da rua tornava-a mais serpente. Batom vermelho, mordidinhas no lábio superior. Olhares discretos. Silêncio das máquinas. O xale ouro desmanchando com os últimos raios de sol...
Vontade incontrolável de misturar no corpo dele.
Seguiu infinita, pairando a cinco palmos do chão. Flores e gritos esparramados pelo caminho. Cantos e patos silvestres dormiam em lagos artificiais.
Fechava os olhos e todas as imagens revolviam na memória.

Uma tontura.
Uma fraqueza.
Parou em frente à porta. Sininhos badalavam ao fundo numa trilha sonora discretíssima. Sabia que ele esperava porque sentira aquelas mãos agarradas em seus quadris a vida toda.
Porém, descido do céu, um gigante com olhos em chamas agarrou seus pés. Ela gritou e tentou enforcá-lo com seus versos. Abriu os olhos.

Estava deitada na cama numa típica manhã de segunda-feira, atrasada para o trabalho. Não viu o xale, o gigante. Nem tinha mais as flores. Pensou como a vida real é assustadora. E estranha.

24 de janeiro de 2008

Carta de amor que ficou na gaveta...

Seção especial 3

. .cartas. .


...essa é a carta mais sincera que já escrevi. Nas próximas linhas verá meu coração aberto, completamente aberto. Isso tem dois lados: o bom é que meus sentimentos vão rodopiar pelo seu quarto, correr por entre seus livros e fugir pela janela; o ruim é que talvez o sangue manche seu lençol...
Que dramática, deve estar pensando. Eu sei. Sei também que te amo desde o primeiro momento em que te vi.
Esses meses foram os melhores e piores da minha vida, porque já te quis como meu amigo, como irmão, já te amei como alguém da família, mas também, felizmente ou infelizmente, já te amei como mulher e sofri muito. No começo por pensar que você nunca sentiria nada. Depois, porque tinha você próximo e ao mesmo tempo distante. Com os dias, me contentei com um amigo. Mas aí, sofri mais, porque você foi um dos melhores que já tive. E me culpei por confundir as coisas.
Chorei tentando te esquecer, me convencendo que você não significava nada, inventando qualquer coisa para tê-lo perto, só um pouquinho. Passei por diversas fases, todas bem difícieis.
Nunca senti isso antes, e talvez por isso acreditava verdadeiramnete que se falasse contigo ia pensar que sou doida, sei lá... - a sensação que tenho é que te conheço desde sempre. -
Já reli essas linhas milhões de vezes imaginando você lendo tudo isso e me sentindo egoísta. Sabe, ... , você jura que não vai achar que sou maluca? Promete? Se mandar essa carta, agora que não aguento mais guardar tudo isso, tenta me compreender?
Já disse que você é lindo? Amo seu sorriso, suas mãos... o jeitinho engraçado, a inteligência, o modo como me respeita. Talvez já tenha dito que não gosto, mas gosto. Gosto de você até bravo. E quando fica triste tenho vontade de colocá-lo no colo e apagar seu sofrimento. Devia ser proibido as pessoas que amamos ficarem tristes...
Você é tão lindo, tão perfeitamnete imperfeito. E eu te amo. E me odeio por isso. Porque você nunca confunde as coisas e eu sim. E queria sumir para bem longe daqui... ! - comecei a falar e vou até o fim, apesar de estar doendo muito aqui dentro -
Outra coisa que preciso confessar é que esse ano fui fiel a você. Todo esse tempo não consegui olhar para mais ninguém, nem aqui ....., nem fora, nem em lugar nenhum. Isso não foi uma escolha, já que ninguém nunca me conquistou dessa forma.
Fiquei completamnete entregue, tão frágil como um cristal. Agora sinto que estou quebrada, arrassada em mil pedaços. E esse amor que está na ponta da caneta nesse instante está saindo tão violentamente que parece que vou morrer...
Meu amor, vou escrever isso aqui para matar a vontade:

Meu amor, meu amor, meu amor...eu te amo!
Aquele selinho que eu te pedi foi uma despedida!

Fica com o beijo que sempre quis te dar.

é agora:
é o FIM.



(Essa carta foi escrita dia 13/12/06. Depois de reler percebo os exageros, a visão imaginária, os amores platônicos impossíveis. Sinto que não é esse o caminho. Tão errado, torto, fora de forma. Tão morte quando deveria ser vida! Não quero mais assim... Aliás, meu medo é não querer mais de jeito nenhum.)

19 de janeiro de 2008

Quando abri os olhos essa manhã
abri os olhos por dentro
Cada órgão
todo o sangue
os anões que trabalham na minha sessão interna de R.H...

... todos olhavam para mim.
Quando abri os olhos essa manhã
tive medo
Apertei o lençol entre os dedos
mas ele escapou nos punhos da minha mãe
E acordei
por fora
- Por dentro continuo adormecida.
Sei que ele não virá
Tudo que aprendi até hoje na vida
é que não virá
“ não existe!!!”
Fica restrito a listas de papai-noel e coelhinhos da páscoa

Que ele não pode vir
já sei
Mas não sei por que
- E pode ser bobeira
sinto-o cada vez mais perto!
Talvez seja a voz da Loucura
valsando nos pensamentos
E não a dele
Os sonhos devem ser manuscritos de Freud
decifrados em parágrafos complexos
E não mensagens dele
O vento que invade meu corpo
quando penso em desistir
pode ser uma mera mudança de clima
um vento qualquer perdido nos cabelos
E não o sopro dos lábios dele...

Que seja.
que converse sozinha manhãs tarde noites
Desenhe versos nas paredes do mundo inteiro
seja expulsa!
Tenho o direito de endoidecer
Ouviram?
Tenho o direito de endoidecer!
Não podem evitar
que fique sã ou endoideça
que seja o frio ou o próprio sol
porque de amor hei de morrer!
Por mais fora-de-moda que isso seja.
De amor hei de morrer
porque o amor é:
(correspondido ou não
entre homens e mulheres, ou não
entres apenas bons amigos, ou não
palpável e engravatado, ou não)
- O melhor motivo para se morrer nessa vida. -
Ouviram?
O melhor!
Não quero morrer de doença no corpo
Resfriado
Ou com uma manga na cabeça.
De amor hei de morrer...





... cada santo dia
da minha vida eterna
ao seu lado

meu amor.

7 de janeiro de 2008




Essa minha mania de ser salva.

Essa minha mania obsessiva de ser salva por um príncipe.

Essa minha mania obsessiva de ser salva por um príncipe que nunca existiu.

6 de janeiro de 2008

o homem chove de dentro para fora
transbordando pelos olhos
o homem chove de fora para dentro
num beijo.



(clique na tirinha para aumentar!)
O mais estranho, meu amor, é que és meu amor - assim na segunda pessoa pra ficar mais bonito - És meu amor, tão belo, tão sublime! E ao mesmo tempo uma incógnita. Como posso me lançar nos teus braços se do outro lado não há redes de salvação?
Agora me diz, tuas palavras atadas às minhas em noites e noites em claro, teu sorriso, o carneiro: foi tudo em vão? Esqueço o caminho, retiro as migalhas de pão. Fecho as janelas, apago a luz. E fim?
Posso ser sonhadora demais. Jeito pré-adolescente de amar que nunca muda; mas não quero ter que constatar isso mais uma vez. Porque toda vez que amo, sendo certa ou errada, amo. Abro as janelas para o sol entrar. Acendo as luzes dos olhos, dos poros. Distribuo migalhas de pão, pedrinhas coloridas pelo caminho. Construo o caminho.
Se isso for errado, então prefiro errar pelo resto da minha vida.


Sentada na frente do monitor olho sua foto, imagino a forma dos seus dedos entrelaçados aos meus. O cheiro do seu cabelo, o tom da sua voz. Quebra-cabeças nunca foram minha diversão preferida, então eu deito de costas sobre o tapete e observo a lâmpada da sala. Milhares de formigas voadoras entram no bocal e morrem instantaneamente. Olho novamente suas fotos, seus recados... Estou apaixonada e não posso. Não, não posso. Não, não ,não.

Fecho os olhos e desejo ser uma formiga voadora.