18 de agosto de 2009

Miséria dos tempos ou a morte da poesia.

E se de repente for assim:
imaginação não move uma agulha de onde
a razão colocar essa maldita agulha.

céu for apenas céu
lua cuspir São Jorge
poeira tornar-se pó


Sem drama, sem dor,
nenhuma poesia.

E se de repente for assim?

paraíso queimar em sol

astro virar satélite
poeira cobrindo tudo
sem comiseração.

E se de repente foi em vão?


suspiro apagar a luz
cinzenta rasgando chão
poeira assentar e fim.


E se de repente for, pra mim?
Conviver é ver filme que não quer.
Ouvir quando quer falar.
Aturar apontamentos
nas coisas mais sagradas.



Conviver com gente chata, é claro.

O individualismo é a coisa mais coletiva dos nossos tempos.
- Quanto mais me encontro, mais me encontro sozinha.
Meus vinte e poucos,
tão cansados, tão cansados.

Eu quero andar descalça,

despenteada, cantando o que não existe.

6 de agosto de 2009

Senhora, nobre senhora.

Sou muito mulher do meu tempo.
Carrego o mistério da vida
e das guerreiras que me antecederam o poder de ter ou não essa vida.
Não preciso casar pra ser gente,
nem amarrar meus pés a corrente alguma que não seja do meu agrado.
Prefiro aprisionar-me aos livros,
subjugar-me aos meus.
Se costuro é para trançar destinos.
Se cozinho, feitiços num solitário ritual.
Nada pode me prender
que não amor.

Sem feminismo,
necessito libertar desejos,
pois arte está no que penso ou sinto com espaço;
e respeito é território duramente conquistado.

Ser anjo;
ser puta;
estar várias é milagre feminino.

De cabeça erguida, grito alto:
"sou quem quiser,
não o que querem,
por conceber das minhas entranhas
o próprio poder da escolha.
Humana, falível, imperfeita e deliciosamente dona de mim."

Sou nobre senhora do meu tempo.

4 de agosto de 2009

Quando não se tem mais nada a dizer
é realmente algo preocupante.