26 de julho de 2009

imagem por: Arlene Graston

Adoro mar, mas não sei nadar até hoje.
Quando pequena, meu pai me jogou na piscina por desejar meus genes idênticos aos dele - ótimo nadador desde sempre - não são.
Hoje, águas fascinam e dão tontura, numa espécie de atração com repulsa, assim como sinto coisas desconhecidas.
Pessoas também atraem e dão enjoo.
Preciso estar "dois"
- com quem veja desenhos nas nuvens.

Matemática das coisas tristes.

Deixei recado no portão:
“Você anda ocupado demais
para pequenas delicadezas.”
Preciso derrubar sorvete na sua camisa e rir.
Saber histórias secretas
do mundo (que só existe) depois de você.
Impossível dividir monólogo
sem valsa.

Dois pra lá, dois pra cá...
- Dois.

21 de julho de 2009

Além do céu.

Esse campo tem horizontes maiores,
não menos distantes,
mais bonitos talvez.
Sou canções para chegar lá.
Vou escorregando de mãos dadas com o sonho
de ser grande.
Passageira, do ventre aos pés,
mistério solitário
sob nuvens do universo.
Não quero menos que o mundo,
porque sou mundo também.
Por querer tudo, tudo sou eu.
Ciranda nos braços da roda
do amor.
Entre fardo e luz, criatura perdida,
que salta abismos para voltar


e volta.

Devagar, posso tocar as coisas
e ser tocada,
silenciosamente.

9 de julho de 2009

Cartão vermelho.

Ouço pai e irmão
discutirem jogos pelos cantos,
sem argumento para acrescentar.
Vivencio a religião futebol
com o silêncio de um ateu.

Passos frêmitos sobre roseiral.

Admiro os poetas que levam anos
para escrever seus versos.
Os meus são cuspidos às pressas,
porque tenho medo da morte
e fome de tempo.

Depois, ao reler,
aparo arestas
com firmeza de um ladrão de rosas
sob luz do lampião.

Se morrer,
perfeição será mero detalhe.

O importante é que senti e disse.
Minha poesia é a junção desses segundos.

Não se engane:
a vida é estrada que se percorre sozinho.

Família, amigos, namorado, patrão.

A vida é estranha que se percorre sozinho.

Tente fechar os olhos e escapar
do terrível julgamento da mente.

Estrada que nos percorre sozinha: a vida.

E por nos atravessar, somos fortes.
E por atravessá-la, memória.

8 de julho de 2009

Ensaio sobre a fatalidade e a escolha.

Vender versos nas portas
é tão digno quanto oferecer tapetes e lustrar panelas.
Alguma pessoas, avaliando o serviço,
ou por comiseração, podem comprar seus livretos.
Você conquistará leitores adormecidos,
despertará escritores.
Um, ou outro amigo importante. Por que não?
Poetas são ácidos, mas ótima companhia para o chá.
Com o tempo, o escritor caberá nos anseios dos leitores mais fiéis.
Sugerirão temas, você ouvirá com atenção demasiada.
Poemas sobre obviedades cotidianas.
Leves e confortáveis como uma tarde na calçada.
Sim, sim! Uma biografia digna.

"Senhor fulano de tal, profissão: poeta.
Sobreviveu de poesia."

- Milagre! - dirão os incrédulos.
- Poeta? - dirão os poetas.
- A que preço? - questionará você mesmo. (ou não)


Conservarei minha poesia virginal perante a prostituição do mundo. (ou não?)

Azáfama

Minhas escolhas
são riscos demais pra colher.

Do meu tempo,
faço versos,
porque não sei ser outra forma
que não essa.

Se todos desistiram de compreender,
não sou clara
como gostaria.

Os poucos que restaram,
ou aceitaram,
ou são tão confusos como eu.

Não quero andar em círculos.

Tenho fé, honestidade e caráter
como herança.

Sem medo,
ou planos grandiosos:
eu vou.

Gostaria que muitos fossem comigo,
mas meu tempo tem mais pressa;
e não estou disposta a esperar.

3 de julho de 2009

Ao Rei.

Existem pessoas íntimas,
sem ser.
Fotos tão familiares,
quanto a de nossos pais.
Anjos sem sexo,
almas sem cor,
que abalam nossa hipocrisia.

Acredito em poetas-dançarinos,
poetas-cantores;
pessoas tão iluminadas
quanto incompreendidas,

porque sei da mágica,
sem entender o truque.

Peço perdão se
idolatrei a mídia cruel.

Hoje, guardo a lógica para realidade

e sonhos para sonhar, apenas.
Sem peso, sem dor.
Simples como A B C,
ou 1 2 3.
Eterno amor preso na atmosfera
depois que você se foi.


- O sol nascerá dançando suas canções.